O DIA EM QUE DUDU LEMBROU O DOUTOR

Atacante não comemora gol que marca e, assim, dá dois recados diretos à torcida   

“O gol é o orgasmo do futebol”.

A frase não é minha, mas sim de um dos maiores craques da história do futebol brasileiro e, talvez, até mesmo mundial: Sócrates. E o Doutor tinha razão: afinal, nada nos dá mais prazer do que ver um jogador do nosso time balançar as redes adversárias.

Isso, porém, não aconteceu hoje, na Arena Palestra Itália. Quando Dudu, enfim, abriu o placar após cruzamentos rasteiro de Moisés, saiu andando calmamente em direção ao meio-campo, como se nada demais tivesse feito – exatamente como agia o inesquecível meia em seus primeiros tempos no Corinthians/SP.

A atitude do ótimo atacante palmeirense me deixou claro que seu objetivo foi dar dois recados diretos à torcida. O primeiro é que as vaias para o time e a perseguição imposta ao novo treinador não estão sendo bem digeridas por um time que, há menos de três meses, tornou-se o melhor do Brasil. Ou seja: os jogadores não estão satisfeitos com a postura adotada pela sempre exigente galera verde.

Já o segundo recado, por mais paradoxal que possa parecer, foi ao meu ver uma espécie de “mea culpa” do atleta: Dudu não comemorou porque, no fundo, sabe que a equipe ainda está longe, bem longe do que pode – e deve – jogar. Se é verdade que um novo treinador chegou, e com ele novos métodos de trabalho e de estilo de jogo, também é fato que apenas um titular absoluto deixou o grupo e que os reforços contratados apenas deixaram o elenco ainda mais forte do que já era.

Isso ficou muito claro nesta vitória sobre o São Bernardo/SP. Mesmo diante de um pequeno time que, na mais positiva das avaliações, é apenas esforçado, o Palmeiras encontrou dificuldades demais, sobretudo no primeiro tempo. Mesmo de novo atuando onde gosta, pela esquerda, o camisa 7 não conseguiu apresentar um bom futebol. Com Guerra pouco inspirado e errando muitos passes (bem abaixo, portanto, do que rendeu em sua estreia), o Verdão perdia força no meio-campo, deixava espaços pelas laterais – sobretudo a esquerda, com Zé Roberto tomando não uma, mas algumas bolas nas costas – e abusava da horrenda ligação direta, que nunca deu certo em lugar nenhum (lembram-se do Verdão de Muricy Ramalho?).

Se o técnico do Palmeiras fosse este jornalista, teríamos uma troca já no intervalo: Keno no lugar de Guerra. Com isso, Dudu passaria a ser o nossos ponta-de-lança, tornando o meio-campo mais agressivo, e não perderíamos nem qualidade e nem velocidade pela esquerda. Porém, mesmo com 0 0 a 0, Eduardo Baptista resolveu dar mais uma chance aos titulares e só mexeu no time aos 14 da etapa final.

Com Raphael Veiga e, principalmente, Michel Bastos, o Palmeiras melhorou demais por uma razão simples: ganhou maior presença no setor de criação e mais qualidade técnica pela direita. Isso atrapalhou demais a vida do time do ABC que, não à toa, levou o tal gol que Dudu não comemorou apenas seis muitos mais tarde. Com a vantagem obtida, tudo ficou muito melhor para o nosso time: percebendo que o São Bernardo/SP se abria em busca do empate (e qual seria sua outra opção?), mandou a campo, enfim, Keno. O único senão é que, como quem saiu foi Moisés, a marcação ficou exclusivamente sob a responsabilidade de Felipe Melo.

Por falar nele, espero que ele continue queimando a minha língua pois, mesmo de um jeito que muitas vezes não me agrada justamente por não ser o correto, ele incentiva toda a equipe, levanta a arquibancada e, melhor do que tudo isso, toma conta da nossa cabeça-de-área como poucos. Isso sem falar em lances de qualidade, como o perfeito lançamento que fez ainda na etapa inicial. Foi o tal do Pitbull o melhor jogador desta partida.

Quando o Palmeiras obteve o segundo gol, graças a um pênalti pra lá de discutível (pra mim, a falta foi fora da área…), já tinha o domínio total do jogo e a boa cobrança de Jean apenas serviu para garantir de vez a vitória e a liderança do grupo. Em síntese, amigos palmeirenses: é certo que ainda iremos sorrir muito, mas também é certo que, mesmo com mais uma vitória, ainda não há muito pelo que sorrir.

Exatamente como fazia Sócrates nos anos 80, exatamente como fez Dudu nesta quinta-feira.

ANÁLISES INDIVIDUAIS

FERNANDO PRASS – 6,5
MUITO BOM 

JEAN – 6
BOM

EDU DRACENA – 6
BOM 

VÍTOR HUGO – 5,5
SATISFATÓRIO 

ZÉ ROBERTO – 6
BOM 

FELIPE MELO – 7
ÓTIMO 

MOISÉS – 6
BOM 

GUERRA – 4,5
RUIM 

RÓGER GUEDES – 5,5
SATISFATÓRIO 

WILLIAN BIGODE – 6
BOM 

DUDU – 6,5
MUITO BOM 

EDUARDO BAPTISTA – 6,5
MUITO BOM 

RAPHAEL VEIGA – 6
BOM 

MICHEL BASTOS – 6
BOM 

KENO – 5,5
SATISFATÓRIO

FOTOS: CÉSAR GRECO (AGÊNCIA PALMEIRAS)

26 Responses to O DIA EM QUE DUDU LEMBROU O DOUTOR

  1. Olá Márcio e Compas,

    Tudo bem? Acho que paciência é uma virtude. Quero acreditar que temos um técnico se firmando e ainda é cedo para as críticas. Fácil falar que não o queremos, mas quais as opções? Luxa? Abel Braga? Ceni? Estamos na virada dos tempos, com nomes novos aparecendo…essa é a tendência. Originalmente eu preferiria que o Vicentin assumisse…mas…agora é torcer para o Eduardo dar certo, e não o contrário…

    • Márcio Trevisan

      Olá, Carlos.

      Penso mais ou menos da mesma forma, mas lembro: infelizmente, paciência é algo pouco comum no futebol.

      Se ganharmos do Linense neste domingo e depois vencermos “eles” na quarta, Eduardo Baptista estará no Céu. Mas se perdermos o derby, vai dar ruim pro cara.

      Abs.

      P.S.: Acho que você quis dizer que preferiria o Alberto Valentim, certo? Rs…

  2. Márcio não assisti a partida, portanto não posso julgar se foi bem ou mal, mas pelas informações que me passaram, sei não viu!
    Com relação ao treinador se é para dar uma chance eu teria contratado o Fernando Diniz ou o Argel.abraços.

    • Márcio Trevisan

      São dois nomes de que gosto, Maciel, mas o esquema do Diniz me parece válido apenas para equipes pequenas.

      Abs.

  3. S.E.PRESIDENTE PRUDENTE

    MARCIO … eu não gosto de cornetar treinador em inicio de trabalho. Devemos aguardar um pouco mais, pois muita gente “queimava” o Cuca e depois, teve que dizer: “o cara é demais”. Concordo com sua escalação de quem serão os titulares no futuro e com certeza, virão os titulos. Mas, cá pra nós, um Paulistinha já irá colocar os rivais com os dois pés atras …Bom fim de semana.

    • Márcio Trevisan

      Eu também quero ganhar o Paulistão, pois já faz algum tempo que isso não acontece.

      Além do mais, título é título, e pode dar um impulso legal ao time.

      Abs.

  4. Roberto Alfano

    Boa tarde, concordo com tudo na sua crônica acima, caro Trevisan, pois estava no A
    lianz assistindo esse jogo.

    Só não concordo na nota que foi dada ao Willian Bigode, e por que manter dois centroavantes no banco com Barrios e Alecsandro!!!!

    Abraço.

    • Márcio Trevisan

      Então, Alfano: gostei da movimentação do Bigode e do fato de ele buscar o jogo.

      Nas partidas anteriores, ele tinha ficado paradão…

      Mas concordo: neste jogo, eu teria começado com o Barrios, até pra dar uma moral pro cara.

      Abs.

  5. É difícil falar sem saber o que acontece lá dentro e o que levou a diretoria a contratar Eduardo Batista. Não desejo mal a ele que parece ser um bom caráter e profissional. A questão é, será que era o momento de apostar nele ? Depois de tanto sofrer com times medíocres e agora voltar ao topo sendo campeão brasileiro com um elenco qualificado, não seria o momento de investir num técnico com gabarito e bagagem ? Mas aí eu lanço outra pergunta: Quem ?????

    Fiz um exercício de memória tentando encontrar um nome de peso no futebol brasileiro e não consegui pensar em um único nome que me agradasse.

    Abraços.

  6. Trevisan,

    => Pra mim parece claro que Roger Guedes vai perder seu lugar entre os titulares. Quem você pensa que seria o melhor substituto? O problema de colocar um meia (Veiga ou Guerra) é que ficaríamos com um ataque “penso”, sem ninguém jogando pela ponta direita.

    => Gostei da enquadrada do Felipe Melo no Dudu. O camarada é fera mesmo.

    => Também gostei do comentário do Eduardo Batista, dizendo que vai manter o Dracena, mesmo com o Mina à disposição, porque este vive ótima fase.
    É óbvio que Mina joga muito mais, mas deixamos o elenco contente, e preservamos o Mina pros jogos que valem mais.

    Abraço, Hudson

    • Márcio Trevisan

      Oi, Hudson.

      Assim que puder contar com todo mundo, creio que o time titular do Eduardo será o seguinte: Prass; Jean, Mina, Vítor Hugo e Zé Roberto; Felipe Melo, Tchê Tchê, Moisés e Guerra; Dudu e Borja.

      Não tem como ser muito diferente deste, embora Michel Bastos possa entrar no lugar do Gurra e ogar aberto pela direita, como fez ontem.

      Abs.

  7. Saudações alviverdes Márcio !
    Se os jogadores do Verdão querem mostrar que estão do lado do técnico é fácil: é só jogar bola e ganhar bem, assim todos vão adorar o Eduardo. Não é com frescura é que vão ajudar o técnico.
    Abraços.

    • Márcio Trevisan

      Sabe o que é, Paulo: quando a porta dos vestiários se fecha o torcedor não tem a menor ideia do que acontece.

      Falo isso porque, antes de ser assessor de Imprensa, eu mesmo não tinha a menor ideia – e olha que eu, então, já era jornalista havia mais de 14 anos.

      Então, ao contrário do que você posa estar pensando, eu garanto: o abraço do Dudu no Eduardo foi algo muito, mas muito positivo.

      E por falar em abraço, segue outro pra vc!

  8. Marcio, é evidente que as coisas não estão bem. Só por que trocou o tecnico e uma filosofia de trabalho não tem que começar do zero. Tinhamos time e ambiente e o time fluía. Hoje parece que não tem nada disso, por que o time não joga e não sei como está o ambiente mas essas atitudes principalmente do capitão do time que foi o mais importante e decisivo no titulo junto com G. Jesus, me levanta o sinal amarelo.
    Mas o que mais me desagrada é ver um técnico inseguro, tentando implantar um esquema sabidamente que não agrada a ninguém, e pior escalando jogadores fora de posição. contra o Ituano eram 3 Dudu, R.Guedes e Wilian. Ontem contra o S.Bernardo o Wilian continua fora, nesse esquema ou joga o Alecsando ou o Barrios. O Wilian e atacante de lado de campo. Estamos assistindo o time do MO com chutões novamente.
    Sou torcedor do Palmeiras e todos nós sabemos como somos. Mas não queremos show agora, sabemos do retorno das férias, do físico etc, mas não queremos começar tudo de novo, apenas que retomassem de onde paramos no ultimo jogo de 2016.

    • Márcio Trevisan

      Marcos: vc está correto em tudo o que escreveu.

      Quanto à insegurança do Eduardo, é explicável: o Palmeiras é a segunda chance que ele merece em uma equipe grande, e se não der certo correrá o risco de se tornar treinador apenas de times médios, como Sport, Ponte Preta e que tais.

      Em relação ao comandante do ataque, Bigode ou quem quer que ele escolha apenas esquentará o lugar para Borja.

      Abs.

  9. Infelizmente estamos perdendo um precioso tempo com esse técnico, com ele ficaremos sem libertadores………

    • Márcio Trevisan

      Olá, Guilherme.

      Antes é preciso saber se ele será o técnico na Libertadores.

      Hoje, sinceramente, não posso cravar esta informação.

      Abs.

  10. Bom dia Márcio e amigos Palestrinos!

    Concordo com toda sua explanação, mas acrescento algo dito no final de semana após a derrota para o Ituano.
    Parece que para nosso atual treinador falta a tal vibração, demora demais para tomar decisões e também quanto as substituições ele tem feito sempre as mesmas, meio que vamos ver se vai dar certo.

    Claramente essa é minha visão e assim como você disse do Felipe Melo, espero que nosso técnico queime minha língua…

    Grande abraço.

    • Márcio Trevisan

      Oi, Fagner.

      Ontem achei que ele foi bem – apenas teria feito a alteração que salientei já no intervalo.

      Nas vc disse bem: o SB é fraco. Se fosse um time um pouco melhor, poderia ter nos complicado a vida.

      Abs.

  11. Sorte do Baptista ter pego um time fraco ontem. Ele que coloque a barba de molho porque o clássico vem aí. E mais um detalhe, técnico que não substitui no intervalo é bundão. Abraços.

  12. Bom dia, Márcio.

    Concordo que somos exigentes. A torcida do Palmeiras quer sempre ver o Verdão dando show de bola e goleando. Aliás, acho que todo torcedor de um time vencedor espera isso, ou seja, não é uma característica exclusiva dos torcedores do Verdão.

    Claro que devemos dar mais tempo e ter paciência, mas sou sincero em dizer que, pelo futebol que o time tem apresentado, não gosto do trabalho do Eduardo Baptista.

    Para mim, regredimos para a era Marcelo Oliveira, onde não tínhamos meio campo, esquema tático e padrão de jogo. Na boa, ontem, em muitos momentos, parecia um “catadão” jogando na arena. Todos perdidos, fazendo tudo e nada ao mesmo tempo.

    Para mim, é muita areia para o caminhão do Eduardo Baptista. Temos jogadores excelentes no elenco, mas será que temos um líder fora das quatro linhas capaz de fazer com que estes jogadores deem o seu melhor? Tiro o meu chapéu para a diretoria do Palmeiras, que fez trabalhou muito bom na contratação dos jogadores deste ano, mas pisou na bola na contratação do técnico.

    A Libertadores, que é o nosso maior objetivo, está chegando. Espero que não façamos o mesmo que fizemos no ano passado, trazendo um novo técnico para dentro de um barco já afundando.

    Um forte abraço.

    Valter

    • Márcio Trevisan

      Oi, Valter.

      Também não gosto do futebol que o Palmeiras tem jogado, mas dizer que o barco já está afundando após apenas 5 partidas, sendo só três delas oficiais, é um tanto quanto exagerado – perdoe-me pela sinceridade.

      De qualquer forma, Paulistão é pra isso mesmo: Eduardo tem um tempo até 8 de março pra fazer este time jogar um mínimo de bola que seja. Se não conseguir, vc – e ele também – já sabe o que acontecerá.

      Abs.

      • Oi, Márcio.

        Você tem carta branca para ser sincero quando quiser.

        Acho que eu não fui claro. Quando eu disse “barco afundando”, quis dizer em trocar o técnico no início da Libertadores ou no meio dela, caso o time esteja jogando mal na competição.

        Foi isso que fizemos no ano passado. Quando trouxemos o Cuca, o barco já estava afundando.

        Um abraço.

        Valter

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