COM O PÉ AQUI, MAS A CABEÇA LÁ

Gabriel Jesus promete dedicação total ao Palmeiras até o fim do ano, mas só o tempo dirá se será capaz de cumprir.

Vou começar sendo bem direto: não gosto desta história de jogador já negociado continuar atuando pelo clube por um tempo antes de se apresentar à sua nova equipe. Raros são os exemplos de atletas que seguiram jogando da mesma forma, que não fraquejaram diante de divididas, que não se intimidaram com ameaças de adversários lembrando-os de que uma possível grave contusão sempre pode acontecer. Além disso, há sempre o risco de um ou outro mau desempenho, um ou outro gol perdido, sempre ser relacionado ao fato de que o referido profissional não está sendo, assim, tão profissional.

Por isso, fiquei satisfeito com a entrevista coletiva de Gabriel Jesus em sua reapresentação pós-conquista do inédito ouro olímpico para a Seleção Brasileira. Firme nas respostas que deu, passou quase – repito: quase – uma certeza de que continuará a ser o mesmo jogador lançado à equipe principal em 2015 e que, neste ano, vem sendo de longe o melhor e mais importante atleta do Palmeiras. Muitíssimo bem orientado pela competente assessoria de Imprensa palmeirense, o menino foi ainda mais feliz ao se negar a responder sobre seu novo clube enquanto continuar a vestir a camisa verde. Uma questão de respeito à agremiação e seus milhões de torcedores.

E por que eu não tenho 100% de certeza de que o jovem talento cumprirá, de fato, o que prometeu? Porque o ser humano é muito complexo mas, ao mesmo tempo, algumas vezes também muito previsível. Menino de periferia, Jesus sempre sonhou com fama e fortuna, exatamente o que vem obtendo agora e, claro, as terá ainda mais a partir de 2017. Além disso, vestirá a camisa de um dos mais importantes clubes ingleses, disputará alguns dos torneios mais tradicionais do mundo e terá seu futebol acompanhado por bilhões de pessoas ao redor do planeta. E caso se destaque, o que é bem provável dados o seu talento e a sua formação familiar, multiplicará seus rendimentos em pouquíssimo tempo, tornando-se então ainda mais rico, ainda mais famoso.

Aí eu pergunto a você, amigo alviverde: ciente de toda esta nova ordem social em que foi inserido, será que ele se entregará de corpo e alma numa partida contra o Figueirense/SC? Será que dará aquele pique e deixará para trás um marcador do Botafogo/PB? Será que colocará a perna numa duríssima dividida com um zagueiro do Vitória/BA? Ou será que nestas e em outras situações ele se lembrará do que lhe prometem as próximas temporadas na Europa e correrá para não chegar, tirará a perna para não dividir, se poupará para não se contundir? Não digo que o menino mentiu em sua entrevista coletiva, mas ele pode ter omitido, mesmo sem ter tido a intenção disso.

Quero, claro, estar errado, pois todos sabemos que com Gabriel Jesus nosso caminho rumo ao 9º título brasileiro e – por que não? – ao tetracampeonato da Copa do Brasil ficará mais curto, mas isso só será possível se ele, de fato, cumprir o que prometeu.

E como neste ano teremos eleições…

7 Responses to COM O PÉ AQUI, MAS A CABEÇA LÁ

  1. S.E.PRESIDENTE PRUDENTE

    Marcio … penso igual a ti, ou seja, eu acho que o menino Jesus vai tirar o pé.Vide, Neymar contra o Barcelona em que não jogou nada e depois, veio a tona que possivelmente ja estava vendido. Não sei se posso criticar o nosso moleque se assim agir, pois como vc mesmo disse, ele vem da periferia e o “mundão” esta se abrindo a sua frente. Deus queira que ele seja uma das grandes exceções e quem sabe um dia, voltara prá nós com a mesma moral que esta saindo.

  2. Márcio bom dia,
    o que você achou da declaração do presidente do Santos, falando que pensa em jogar no Allianz e disse que o estádio é da W. Torre?
    Por favor, esclareça como é o contrato do Palmeiras com a construtora e penso que ele foi muito infeliz em se referir dessa forma. Queria ouvir sua opinião. Grande Abraço.

    • Márcio Trevisan

      Olá, Luis Paulo.

      Com a declaração que deu, o presidente do Santos FC mostrou um despeito e um desrespeito imensos.

      Despeito porque tratar a Arena como propriedade da WTorre foi uma prova de inveja colossal, já que dentre os grandes paulistas o time da Baixada é o único que possui um campinho (note: um campinho, não um estádio) com capacidade para pouco mais de 16 mil pessoas. Até o Canindé é maior do que a Vila Belmiro.

      Desrespeito porque tratar a Arena como propriedade da WTorre foi um prova de falta de conhecimento brutal, já que o contrato celebrado entre clube e empresa deixa muito claro à qual parte pertence toda a obra.

      Se nosso presidente tivesse um pouco mais de culhão (eu sei: é exigir muito), deveria simplesmente impedir que o Santos FC jogasse em nossa – saliento: NOSSA – arena.

      Abs.

  3. Boa noite, Marcio.

    Muito bem observado. Entrevista extremamente profissional e pontual, pra acabar com parte do bafafá que a imprensa cria. Engraçado notar como ninguém observou que o elenco deles, que foi desmontado pelos chineses no ano passado, não rendeu nem o valor da parcela devida ao Palmeiras na venda do Gabriel Jesus. Acredito que mesmo que não tenha a mesma dedicação que ficamos acostumados a ver, sua presença será vital para conquistarmos esse Brasileirão.

    E independente disso fico curioso com o desenvolvimento dele como atleta, trabalhando no melhor campeonato do mundo e com o melhor técnico. Alias, nenhum comentário também pro Alexandre Mattos que foi lá resolver esse imbróglio, que poderia terminar nas páginas policiais, como vimos da última vez que um craque saiu do país.

    Abraço!

    • Márcio Trevisan

      Olá, Luigi.

      Agradeço muito o elogio.

      Espero que Jesus siga se empenhando ao máximo, pois se o fizer ficaremos mais próximos do título.

      Abração.

  4. Bom dia Márcio,

    Tudo o que você escreveu faz o mais absoluto sentido. O problema é que ainda precisamso dele, e muito!

    Aproveitando a oportunidade, gostaria de lhe fazer duas perguntas: com os relacionamentos que você possui, já ouviu alguma coisa sobre como o Palmeiras está se preparando para substituir o Gabriel? Além disso, ouviu como o Palmeiras pretende utilizar os milhões de Reais provenientes da sua venda?

    Um abraço.

    Valter

    • Márcio Trevisan

      Oi, Valter.

      Sem dúvida precisamos dele – e muito, como vc disse.

      Espero, sinceramente, que ao final deste ano esta matéria esteja completamente furada.

      Respondendo à sua pergunta: no Palmeiras, todo o dinheiro arrecadado com o futebol fica no futebol. Isso significa que a grana que entrar desta negociação será utilizada na contratação de reforços para o ano que vem. Quanto a nomes, nenhum ainda foi ventilado.

      Abs.

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