Como um diagnóstico errado fez nascer um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos.

Amsterdã, 1960. Uma senhora, já viúva, carrega pela mão o filho, que caminha com muita dificuldade. Nasceu o garoto com uma má formação nos dois pés e, franzino e muito magro, mal se aguentava se não tivesse amparo. Os aparelhos ortopédicos que usara até os 10 anos amenizaram seu problema, mas então, já com 13 e em fase de crescimento, se faziam novamente necessários.

Porém, como comprar novos aparelhos? A pobre mãe do garoto não tinha dinheiro. Foi então que aquela senhora holandesa teve uma ideia que, na época, lhe era mesmo a única solução: como faxineira do clube mais importante da Holanda, poderia pedir para que os médicos, gentilmente, ajudassem o seu filho.

E era nisso que pensava enquanto carregava o menino pela mão. À porta do Ajax, ele parou, estático, assombrado com a grandiosidade do gigante à sua frente. E perguntou:

_ Mãe, o que a gente veio fazer aqui? A senhora sabe que eu não consigo jogar bola…

_ Não se preocupe, filho. Você só vai conversar um pouco com os médicos para ver se eles dão jeito nesses seu pés, respondeu a mãe.

Já no DM do Ajax, um médico olha para o pé direito do menino, depois para o esquerdo, e meio desanimado se vira para a senhora.

_ Sinto muito, mas seu filho tem uma deformidade bastante razoável. A única maneira de diminuir o problema será uma série de exercícios, sobretudo com bolas. Mas resolver de vez, não acredito.

Sem ter outra alternativa, o garoto calçou um par de chuteiras velhas que mal se ajeitavam em seus pés e foi para o campo chutar bolas com os juvenis do Ajax, conforme indicara o médico. E, como que num encanto, começou a gostar, a perder a timidez, a chamar a bola de “minha querida”.

Três anos depois, aos 16, assinou seu primeiro contrato profissional. Aos 19, estreou na seleção da Holanda. Aos 27, comandou seu país na inesquecível Copa da Alemanha e no fantástico Carrossel Holandês. Durante toda a carreira, ganhou 21 títulos e está entre os 10 melhores jogadores de toda a história do futebol.

Hoje, aquele menino de pés tortos nos deixou, vencido pelo único adversário que não soube superar: o cigarro.

Boa viagem, Johan Cruyff.