Veja o que a FPF da época fez para impedir a participação do Palestra Itália no Camp. Paulista de 1915.
O Campeonato Paulista viveu sua primeira edição em 1902, sem muito alarde. Aos poucos, porém, o torneio foi ganhando consistência e, quando teve início a segunda década do século passado, já levava aos estádios, nas tardes de domingo, um número cada vez maior de aficcionados.
Como contamos no último capítulo de “Nossa História”, o principal objetivo do Palestra Itália e de seus dirigentes era a participação da equipe no Paulistão. O detalhe é que, ingênuos, aqueles rapazes tinham a mais plena certeza de que a vitória sobre o Savoia seria motivo mais do que suficiente para que o quadro fosse aceito pela APSA – Associação Paulista de Sports Athleticos (pouco mais tarde denominada APEA) -, a principal entidade criada para organizar a competição.
A certeza de que o Palestra seria aceito certamente não se baseava, contudo, somente na vitória sobre o time de Votorantim-SP. Dois fatores contribuíam para que a equipe dos italianos pudesse competir: o primeiro era que aquela não fora apenas uma vitória qualquer, mas sim também a primeira derrota do Savóia dentro de casa desde a sua fundação, 15 anos antes. A outra questão era de datas: o jogo fora disputado no dia 24 de janeiro, o torneio estadual só começaria em abril e, portanto, havia tempo hábil para a formação de um time efetivo e o atendimento de todas as exigências por parte da APSA.
Assim, crédulos de que tudo daria certo, foram Ragognetti, Marzo e Cervo à sede da APEA, logo na semana seguinte, saber quais os documentos necessários para a filiação do Palestra Itália. Lá chegando, os jovens palestrinos rapidamente perceberam que não eram bem-vindos: a entidade principal do futebol bandeirante não parecia nem um pouco interessada na inclusão em seus quadros de mais uma equipe sem história e nem força política.
Inicialmente, desconhecedores de que toda a tramitação burocrática já fora feita e de que o Palestra atendia a todas as normas vigentes exigidas, dirigentes da APEA solicitaram uma série de documentos do clube e de provas cabais da idoneidade de seus diretores e presidente. Tudo lhes foi entregue. Em seguida, o argumento apresentado foi que a tabela do certame já havia sido feita, aprovada e até publicada nos jornais, mas tal afirmação rapidamente foi rechaçada pelos palestrinos, pois apenas seis equipes participavam do campeonato. Assim, qualquer mudança seria muito simples.
A cartada final se dirigiu, então, ao aspecto técnico. Disseram os poderosos de plantão que, se o Palestra Itália quisesse se juntar aos seis times que disputariam o Campeonato Paulista de 1915, teria de provar a sua força contra uma equipe mais forte e mais conhecida do que a do interiorano Savoia. Seria necessário vencer este tal adversário, escolhido pela própria APSA, para provar sua qualidade e só então ser aceito nos quadros da entidade.
Com isso, conseguiu a APSA o que queria: impedir a possibilidade da presença palestrina no certame de 1915, já que caberia ao Palestra Itália arcar com todos os custos deste jogo e, para isso, seriam necessários muitos bailes e festas para a obtenção dos recursos. A partida, porém, haveria de acontecer, mesmo que vencê-lo significasse a participação apenas no Campeonato Paulista do ano seguinte, 1916.
Em nosso próximo encontro, vamos contar como se saiu o Palestra Itália na primeira grande decisão de sua vida.
Quer opinar sobre este texto? Escreva para [email protected]
Obs.: Esta seção será atualizada em 07/05/2011.