CAP.16: AH, SE NÃO FOSSE O CONDE…

Para acabar com a injustiça, nada melhor do que o prestígio – e o dinheiro – de um grande empresário

Irritados, os dirigentes do Palestra Itália deixaram a sede da APEA batendo os pés e as portas. Inconformados com mais uma recusa, dessa vez desprovida de qualquer lógica e resultado apenas da inveja sentida pelos paulistanos em relação aos italianos e a seus descendentes, estavam decididos a brigar o quanto fosse necessário para terem o direito de ver seu clube, tão novo mas já tão querido, disputando o Campeonato Paulista. 

Estavam certos tanto o presidente Ludovico Bacchiani quanto seus dirigentes. Se não participasse de um torneio oficial, ao fim do qual seria proclamado um campeão, o clube até poderia sobreviver, mas o time evidentemente não. E, vale sempre lembrar, o Palestra Itália nascera para o futebol, e não para o social. 

Francisco Matarazzo: o Palmeiras lhe deverá eternamente.

Reconhecendo o empenho de tais dirigentes, o Conde Francisco Matarazzo (a quem dedicaremos um capítulo exclusivo de Nossa História muito em breve), já então o industrial mais rico e mais influente de São Paulo, resolveu entrar na briga. Mesmo jamais tendo exercido qualquer cargo diretivo no clube, este megaempresário é parte de nossa história não só pelo que fez em 1916, mas também por outro ato, quatro anos mais tarde, o qual será devidamente lembrado nesta seção em seu devido tempo.

Mas voltemos à ação do Conde para fazer o nosso time ingressar naquele Paulistão de 1916. Devidamente acompanhado dos mais altos membros de suas empresas, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – mais conhecidas como IRFM -, o empresário dirigiu-se à sede da Associação Paulista de Esportes Atléticos e, para seus líderes, declarou o seguinte:

_ Prezados senhores, boa tarde. É de conhecimento de todos que a Societá Palestra Itália pleiteia, há tempos, sua inclusão em vosso campeonato de futebol. Infelizmente, apesar dos inúmeros esforços de seus diretores, associados e atletas, seus pedidos têm sido sequencialmente negados, o que tem causado uma enorme frustração em todos os nossos simpatizantes. Desta forma, como empresário que também nutre simpatia por este novo clube, venho até a presença de Vossas Senhorias para lembrar dois fatos inquestionáveis sobre nossa colônia: o primeiro é uma questão lógica, pois os italianos e seus descendentes já fazem parte da vida da Cidade e do País, tendo desta forma o direito de se sentirem representados em torneios esportivos; e o segundo é, se me permitem, de cunho financeiro: devido ao crescente apelo popular de que tem desfrutado o Palestra Itália, é claro que seus jogos serão sempre acompanhados por inúmeros fãs, o que por fim aumentará a arrecadação do seu campeonato.

Sábias palavras aquelas proferidas pelo Conde Francisco Matarazzo. Sem argumentação e, principalmente, sem coragem para negar um pedido feito em tom cordial mas, ao mesmo tempo, impositivo pelo maior nome do setor empresarial de São Paulo, a APEA aceitou na hora a inclusão do Palestra Itália no Campeonato Paulista de 1916.

Mas há quem diga, porém, que um outro fator também influenciou de forma decisiva na mudança de postura da APEA. Sem mais poder contar com o Campo do Velódromo, que seria destruído para a construção da Rua Nestor Pestana, a A. A. das Palmeiras ofereceu para a APEA o campo da Floresta, perto da Ponte Grande. Porém, havia um problema: o local não contava com arquibancadas e também não havia dinheiro para as construir. O Palestra Itália entrou na jogada – com a ajuda de sócios abastados (ou seja: principalmente de Francisco Matarazzo), e prometeu levar as antigas arquibancadas do Velódromo para o campo da Floresta. Assim o fez e, coincidência ou não, em fevereiro de 1916 foi aceito na APEA. 

Faltou vinho tinto nas cantinas paulistanas quando a notícia ganhou a Cidade. Enfim o sonho de disputar um torneio oficial de futebol estava concretizado. Contudo, o tempo urgia, pois o campeonato já estava prestes a começar e nosso clube precisava, claro, de jogadores.

A primeira partida do Palestra Itália na história do Paulistão será o tema principal do próximo capítulo de “Nossa História”.  

ATENÇÃO: ESTA É UMA OBRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, SENDO PROIBIDA SUA DIVULGAÇÃO TOTAL OU MESMO PARCIAL SEM A PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. OS INFRATORES SERÃO RESPONSABILIZADOS CRIMINALMENTE.

5 Responses to CAP.16: AH, SE NÃO FOSSE O CONDE…

  1. roberto alfano

    Boa tarde caro Trevisan, sem dúvidas aparece um empresário na aquela época com a alma palestrina, afim de colaborar.

    Abraço.

    • Márcio Trevisan

      Olá, Alfano.

      E o mais legal é que Matarazzo o fez sem nenhum interesse. Por sinal, jamais exerceu cargo diretivo no clube.

      Aliás, um pouco mais pra frente você saberá como ele ajudou ainda mais o Palestra Itália.

      Abs.

  2. corrigindo: “contra tudo e contra todos”

  3. Bom dia.
    Muito interessante o novo capítulo e com provas de que a história no Palmeiras é cíclica.

    Já naqueles anos iniciais ficou evidente o “contra tudo e contra tudo” e nada como pessoas abnegadas e seu dinheiro para nos ajudar. Começou com o Conde, quase cem anos depois veio o Nobre e quase em seguida a Leila.
    Forza Palestra.

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