A ARTE DE FALAR O QUE TODOS QUEREM OUVIR

Róger Machado prova conhecer história do Palmeiras e “ganha” milhares de palmeirenses em sua apresentação

Se alguém ainda acreditava não haver muitas diferenças entre Eduardo Baptista e Róger Machado, já que ambos são treinadores da nova geração, é certo que após a entrevista de apresentação do novo treinador do Palmeiras ninguém mais pensa algo semelhante. E o motivo é muito simples: o ex-lateral-esquerdo provou ser muito mais preparado para o cargo que irá ocupar, mais ponderado em suas respostas e, sobretudo, mais ciente do que a torcida gostaria de ouvir.

Não apenas uma, mas algumas vezes, Róger citou os tempos da Academia, e até mesmo Ademir da Guia chegou a citar ao responder uma determinada pergunta. Por mais que os jornalistas tentassem abranger outros tópicos, todos pertinentes, em relação a como será o seu trabalho, o novo comandante dirigia suas respostas a temas como “futebol bem jogado”, “a pressão é proporcional à grandeza do clube”, “futebol plástico”, “equipe competitiva porém habilidosa”, “temos de apresentar um futebol bonito para a torcida”, e por aí vai.

Inteligente, ele sabe que sua contratação dividiu todos nós. Alguns, como eu, preferiam outro nome; outros, e também me incluo dentre estes, acreditam que ele poderá, sim, fazer um ótimo trabalho; mas há também aqueles que odiaram a sua contratação. Então, o que ele pensou? “Vou falar aquilo que o palmeirense gosta de ouvir”. E o que o palmeirense gosta de ouvir? “Teremos uma equipe que lutará pelos títulos mas sem que para isso abra mão de um futebol plasticamente bonito”.

Sejamos sinceros conosco mesmos: ele agiu errado? Claro que não. Somo exatamente assim: para a esmagadora maioria dos torcedores do Verdão, ser campeão é ótimo, mas se o título não vier com um futebol minimamente bem jogador a graça não é a mesma. E vou mais além: se tivéssemos faturado o Paulistão e o Brasileirão deste ano jogando a mesma bola que o campeão de ambas as competições, a esmagadora maioria de nós – e mais uma vez eu me incluo nesta – não teria comemorado tanto. É uma questão histórica, cultural, que faz parte do DNA da torcida alviverde. Róger Machado teve inteligência de sobra para perceber isso – e o usou a seu favor.

Não é possível assegurar, neste momento, que Róger Machado terá sucesso à frente do Palmeiras. Mas é certo que milhares daqueles que a ele torceram o nariz agora já lhe sorriem.

 

12 Responses to A ARTE DE FALAR O QUE TODOS QUEREM OUVIR

  1. Eita. Li todos os comentários, o bicho tá pegando aqui no Senhor Palmeiras. Márcio só para dar um pitaco, eu chorei pela seleção de 82. Em 1994 e torci contra a seleção, não queria de forma alguma que o Brasil fosse campeão jogando daquele jeito. Abraços.

    • Márcio Trevisan

      Então, Tadeu, é o que eu disse: cada um tem o direito de encarar o futebol como prefere.

      Eu, como romântico inveterado, sinto saudades não só dos craques do Palmeiras, mas também de jogadores como Sócrates, Zico, Falcão, Dicá, Pita, Enéas, Dêner.

      Só isso.

      Abração.

  2. Antonio Manara

    Marcio, concordo totalmente com suas palavras, onde o Roger provou ser inteligente e preparado para o cargo. Eu particularmente prefiro ser campeão, porém com um futebol de qualidade estética, como nossas academias praticavam.

    • Márcio Trevisan

      Olá, Manara.

      E isso é possível. Se não com a qualidade das Academias, pelo menos sem a retranca armada pelo atual campeão paulista e brasileiro.

      O Grêmio/RS, ontem, foi um bom exemplo disso.

      Abs

  3. Irineu Curtulo

    Bom dia! Considerações: 1) acredito no trabalho que o Roger executará no Palmeiras; 2) perfeita a contratação do Zé Roberto para ocupar o cargo de assessor técnico; 3) Feliz com o rompimento da patrocinadora com o sapo-boi ( o que você achou dessa notícia?); 4) foram circunstâncias diferentes das chegadas do EB e Roger;

    • Márcio Trevisan

      Irineu: tudo o que puder manter o ex-presidente de origem árabe longe das decisões do futebol palmeirense é positivo.

      Abs.

  4. Júnior Colletti

    Bom dia!

    Se tão óbvias foram as palavras do Roger, mais óbvia é a participação dele neste Grêmio que encantou a América. Elenco por ele formado; garotos vindos da base que explodiram e são realidade, que penso que representem mais de 60% do time titular campeão da Libertadores.

    Tal como muitos, não pude ver as Academias; não pude ver ao vivo o Divino desfilando com suas passadas largas nos campos do Jardim Suspenso de Parque Antárctica; mas, sou amante deste futebol bem jogado, pois, está em nosso DNA. Disse isso “N” vezes aqui. Com este discurso meu Pai me cativou e me fez ser um apaixonado pelas cores do Palmeiras. Paixão esta que hoje está bem encaminhada para meu filho!

    Reforço, também, meu desejo de um dia Renato Portaluppi ser nosso técnico. Ao fim de um ciclo, que torço para ser muito vitorioso de Roger Machado, ele poderia assumir e dar continuidade na prática deste futebol-arte que se desenha ser retomado no Palmeiras. Não adianta, em se tratando do Palmeiras, sou um otimista inveterado!!!

    Márcio, quero pedir desculpas por ter mencionado o nome de um jornalista em meu último comentário. Sei que isto fere as normas do site e sua conduta ética! Foi um deslize e, menos mau, sem palavras ofensivas.

    Mas, quero fazer menção a outro profissional da imprensa e sua extrema incomodação em sermos o maior Campeão Nacional. Seu time do coração foi campeão nacional e eu tive a alegria de contar que ele fez mais posts em seu blog tentando minimizar as conquistas dos títulos nacionais do Palmeiras, do que a própria conquista dos gambás.

    Também refleti sobre essa estória dos fax que a concorrência conta. Pensem comigo: os invejosos podem dizer que temos títulos por fax. Ok, o reconhecimento da Casa Bandida do Futebol (como o próprio jornalista se refere) pode ter vindo por fax, mas, ninguém questiona que disputamos e ganhamos, em campo, numa época em que o futebol dispunha de inúmeros times formados quase que integralmente por craques.

    Agora, nunca vi ……… mencionar que seu time do coração, dos 07 títulos que possui – isso só me referindo a Brasileiros – três deles tem asteriscos, por fraudes, roubos, enfim, práticas ilegais. São eles: 2005, 2011 e 2017.

    Portanto, prefiro muito mais essa estória do fax, do que dos “*”!!!

    Grande abraço!

    • Márcio Trevisan

      Olá, Colletti.

      Anote aí: se em 2018, ou em qualquer ano, o Palmeiras ganhar todos os títulos que disputar, um monte de colegas arrumará todos os tipos de desculpa para minimizar as conquistas. Falo isso de cadeira, pois quando fui assessor de Imprensa do clube vi o desejo de muitos jornalistas (aliás, acredite: alguns deles palmeirenses) descreditarem os nossos feitos e vibrarem com nossas derrotas.

      Em relação a ter citado um jornalista, não precisa se desculpar – isso acontece. Tanto que você de novo citou – rs…

      Abs.

  5. Bom dia, Márcio e Colegas.

    Você realmente acha que a opinião daqueles que “torceram o nariz” para Róger realmente mudou depois da entrevista?

    Róger nada mais fez do que dizer o óbvio ululante. Vamos disputar títulos, temos um elenco competitivo, o Palmeiras é um grande clube, a pressão é proporcional ao tamanho da organização e por aí vai. Quando comparado a Eduardo Baptista, disse que faz parte de uma safra de novos treinadores e que, por isso, está na vitrine.

    Alguém seria louco para dizer alguma coisa diferente? Claro que não. Róger fez o que faria qualquer um em seu primeiro dia no novo local de trabalho: foi simpático e disse o que se esperava que dissesse.

    Sou cético até que os resultados venham e não me importa se o Palmeiras jogue bonito ou não. Prefiro ganhar tudo o que disputamos jogando feio do que perder tudo jogando bonito. A seleção brasileira de 1982 ficou marcada porque jogava bonito, e nada mais. A seleção de 1994 foi aos trancos e barrancos e levou o tetra. Resultado é o que conta.

    Um abraço.

    Valter

    • Márcio Trevisan

      Olá, Valter.

      Vc não entendeu o que eu escrevi: Róger foi inteligente ao dizer que espera fazer o Palmeiras jogar como jogava a Academia. Isso, é çlaro, será impossível, mas para a galera soa como o mais lindo dos poemas. É neste ponto que ele “ganhou” muita gente, pode ter certeza.

      Em relação ao fato de que “resultado é o que conta” ou a você preferir a Seleção de 1994 à Seleção de 1982, respeito, claro – e muitos (sobretudo corintianos) – pensam como você. Mas eu sou mil vezes a Seleção de 1982 (tanto que ela é muito mais lembrada do que a de 1994 ou mesmo a de 2002), como você mesmo o fez.

      • Márcio,

        Eu realmente posso não ter entendido o que você escreveu, assim como o que você escreveu talvez não tenha ficado tão claro para aqueles que se propuseram a ler o post.

        Acredito que minha forma de pensar não seja a mesma da torcida do Corinthians/SP – aliás, me pergunto porque você associou a minha forma de pensar ao de torcedores de um clube que eu, se quer, gosto. Minha forma de pensar é a mesma de muitos torcedores do PALMEIRAS que almejam algo mais do que simplesmente futebol “elástico”. Ela é, apenas, diferente da sua.

        Valter

        • Márcio Trevisan

          Valter: diferente da minha e de milhões de palmeirenses, e igual a de outros milhões de palmeirenses também.

          Em relação a comparar a sua opinião com a de corintianos, nada mais fiz do que uma alusão: para os corintianos, e isso é histórico, vale mais o time campeão paulista de 2017 com todas as perebas que ele continha do que o campeão paulista de 1982, que tinha Sócrates, Zenon, Wladimir e outros craques.

          Daí ter feito a associação, entendeu?

          Abração.

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