CAP. 125 – FOI DE CABEÇA, ARMANDO!

Erros de arbitragem sempre fizeram, seguem fazendo e continuarão a fazer parte do futebol. Por mais que reclamem os que são prejudicados, o fato é que não existe jogo sem árbitro e que este, como ser humano, por vezes falha. Claro que, quando é o nosso time que sente na pele o equívoco de um apitador, nunca nos conformamos. 

Um erro grotesco e decisivo cometeu contra o Palmeiras um dos mais famosos e importantes árbitros brasileiros de todos os tempos, Armando Marques. Antes, porém, de o relembrarmos neste capitulo de Nossa História, vale recordar a trajetória do Verdão no Campeonato Paulista de 1971, competição que disputou simultaneamente à Libertadores da América. 

Disputado exatamente como o atual Brasileirão, ou seja, no sistema de pontos corridos, o Paulistão de 1971 foi bastante emocionante. As 12 equipes jogaram entre si em turno e returno e, após a penúltima rodada, o São Paulo liderava com 34 pontos, seguido de perto pelo Palmeiras, que tinha 33. Coincidentemente, o último jogo de ambos era justamente o “Choque-Rei” que, desta forma, acabou por se tornar a finalíssima da competição, com nosso adversário precisando apenas do empate para ficar com a taça. 

Que o São Paulo tinha um “senhor” time naquela época ninguém questionava – seu meio-campo, por exemplo, era composto “apenas” por Édson Cegonha, Gérson (o “Canhotinha de Ouro”) e Pedro Rocha. E muito menos que era, justamente por este motivo, o maior favorito ao título. Porém, a conquista do bicampeonato paulista pelo Tricolor acabou manchada: na partida decisiva, embora precisasse apenas do empate para garantir a taça e tenha vencido o Verdão, único clube que poderia lhe impedir a festa, o time do Morumbi foi favorecido por um grave erro de Armando Marques. 

Mas contemos a história como deve ser. Logo aos 5 minutos do primeiro tempo, o ótimo ponta-esquerda Paraná cruzou, o zagueiro Minuca rebateu mal e o centroavante Toninho Guerreiro abriu o placar. Ou seja: a vantagem são-paulina, que já era considerável, aumentou ainda mais, pois então apenas uma virada alviverde nos garantiria a conquista da taça. 

O jogo, porém, seguiu bastante equilibrado até os 21 minutos do segundo tempo, quando Armando Marques resolveu aprontar mais uma das suas. Após cruzamento, Levinha cabeceou forte, com o corpo curvado para frente, em lance que se assemelhou ao peixinho, e colocou a bola no fundo das redes. O árbitro-assistente Dulcídio Wanderley Boschillia conformou o lance, correndo para o meio-campo, mas o juiz anulou o gol alegando toque de mão do meia palmeirense. 

Armando Marques: árbitro impediu o Palmeiras de ser campeão paulista em 1971

Se tivesse empatado naquele momento, quem garante que o alviverde não teria virado o clássico e, desta forma, abocanhado o título? Até porque também tínhamos uma ótima equipe. A revolta tomou conta de todos os palmeirenses e, nos últimos minutos do Choque Rei, uma grande confusão se deu entre um torcedor que invadira o campo e alguns jogadores do Verdão, que partiram para a agressão. Após o tumulto, os palmeirenses Luís Pereira, Fedato e Eurico foram expulsos. 

Muito anos depois, então já árbitro consagrado, Dulcídio Wanderley Boschillia confidenciou a este jornalista durante uma entrevista para o extinto jornal A Gazeta Esportiva exatamente o que segue: “Após o jogo, o Armando ficou louco da vida comigo e disse que eu não deveria ter confirmado o gol do Leivinha antes que ele apontasse para o meio-campo. Aí, eu lhe falei que tinha certeza de que o lance fora legal, e que nunca iria imaginar que fosse anulado. O Armando, daquele jeito todo nervosinho que ele tinha, ficou ainda mais bravo e jurou pra mim que eu jamais chegaria ao quadro internacional, ou seja, que eu jamais seria um árbitro Fifa pois ele, com todo o seu prestígio, nunca permitiria. Não deu outra: terminei minha carreira apenas como um árbitro nacional. Mas com a consciência tranquila”. Detalhe: Dulcídio sempre foi torcedor do São Paulo FC. 

O mais curioso, porém, este jornalista tomaria conhecimento ainda mais tarde. Durante um programa de TV em que participamos juntos, Leivinha contou que Armando Marques o procurou e pediu desculpas pelo erro, reconhecendo que impedira qualquer chance de reação do Palmeiras. “Só que isso aconteceu quase dois anos mais tarde, durante um jantar da Seleção Brasileira”, lamentou o eterno craque palmeirense. 

Para rever os melhores momentos deste jogo e o gol absurdamente (ou seria desonestamente?) anulado por Armando Marques, clique em https://www.youtube.com/watch?v=wGBPxiYpsb8. 

Embora ferido, nosso time não teve tempo para muita reclamação. Apenas três dias mais tarde, iniciou uma rápida série de amistosos visando à preparação para a disputa do primeiro Campeonato Brasileiro com a nomenclatura que mantém até hoje. E será justamente nossa estreia no Brasileirão que recordaremos em nosso próximo encontro. 

 Até lá.

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