À MINHA, À SUA, À NOSSA

Minha homenagem àquelas que sempre adiantaram o almoço de Domingo para que pudéssemos chegar a tempo no Palestra

Os personagens principais de minhas crônicas são, invariavelmente, um destes três caras: eu mesmo, meu pai ou meu filho. Talvez pelo fato de quase 100% das histórias que eu conto serem totalmente verídicas, elas acabam tendo uma destas figuras como protagonista.

E foi justamente por admitir isso que percebi a injustiça que cometi durante todos estes anos em que me aventurei pelos caminhos – às vezes tortuosos, confesso, mas sempre inebriantes – da prosa urbana: até hoje, jamais havia dedicado à figura materna o espaço que ela merece.

Fui moleque de rua numa época em que tal definição não carregava nem de longe e pecha que hoje detém. E se pude desfrutar desta condição devo à minha mãe: primeiro porque era ela quem me deixava jogar bola na calçada e depois porque era ela quem corria com o merthiolate atrás de mim para curar as inúmeras raladas que eu sofria em meus tempos de “jogador profissional”. Ardia como o diabo, mas curava.

D. Augusta: saudades de uma mãe palmeirense

É bem verdade que também não foram poucas as vezes em que ela deu uma de juiz e acabou com a pelada, levando-me para casa pendurado por uma das orelhas. Se na época tal atitude me soava como a mais absurda e inoportuna ingerência, hoje me fica claro que, se a novela das 8 estava começando, já não era mais hora de criança estar no meio da rua.  

Se D. Augusta teve lá a sua importância nos meus doces tempos de infância, não foi diferente sua participação, ainda que indireta, na minha opção profissional. Afinal, foi ela quem se fez de surda quando eu, no quartinho dos fundos, narrava meus emocionantes clássicos de futebol de botão como se fosse o Osmar Santos. E nem é preciso dizer que, quando o gol era do Palmeiras, não havia um morador do prédio que não ficasse sabendo.

Um pouquinho mais pra frente sua ajuda se daria em outra esfera. Se queria, um dia, falar e escrever profissionalmente sobre futebol, assistir às partidas nos estádios seria uma condição essencial. E quem adiantava o almoço de domingo o quanto podia, a fim de que eu pudesse pegar o ônibus a tempo de arrumar um bom lugar nas arquibancadas do Palestra? E se o jogo era à noite, não tinha sono que a levasse pra cama antes de me ver chegar, comentar superficialmente o resultado e não me deixar em paz antes de me ver tomar pelo menos um copo de leite com Toddy.

Hoje, D. Augusta já faz parte do Plano Espiritual – deixou-nos, serena como sempre foi, em 04/09/2010, então com 81 anos. E até o fim da vida física foi fera na cozinha – seu pernil puxado no limão, por exemplo, jamais será igualado.

Mas não é nem disso que mais sinto falta. O que me dá saudades, mesmo, é de ouvi-la me perguntando, sempre após os jogos: “O Palmeiras ganhou, filho?”.

Um beijo, nega. E valeu. 

6 Responses to À MINHA, À SUA, À NOSSA

  1. Bela homenagem Márcio. Um abraço e parabéns mesmo que atrasado a todas as mamães. A minha nem gostava de futebol mas hoje assiste e torce para o Palmeiras de tanto ver eu e minha irmã torcendo. Ela mesmo diz “eu não gosto de jogo mas quando é o Palmeiras eu torço”…rs

  2. Marival Mazzio

    Parabéns pelo texto, toda mãe sempre interfere na nossa possibilidade de ser craque, mas com amor e carinho que toda mãe tem. Abraço Márcio, continuo lendo todas as suas postagens desse que é nosso amor eterno o Verdão.

    • Márcio Trevisan

      Olá, Marival.

      Agradeço muito as suas palavras.

      E agora que voltou a aparecer por aqui, por aqui continue.

      Abs.

  3. bom dia marcio, emocionante seu texto para este iniciar de dia das maes, um abraço canuso arrepiou

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