ATÉ UM DIA, EDUARDO

Carta aberta ao, agora, ex-treinador do Palmeiras

“Eduardo.

Não tivemos a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, mas sei que você leu tudo o que escrevi nesta página nos últimos meses (todos no clube leem, muito embora raros sejam os que admitam). Mas mesmo sem conhecê-lo, foi imediata a simpatia que senti por você desde a primeira vez que o vi no comando de uma equipe de futebol. E a razão é simples: convivi muito tempo com seu pai. Primeiro no Novorizontino/SP, depois do Corinthians/SP e, claro, principalmente no Palmeiras, clube no qual estreitamos ainda mais os laços de amizade que mantínhamos. Depois, é verdade, os caminhos da bola levaram Nelsinho Baptista para outros cantos do planeta, e o que ficou foi a admiração que sentimos, acredito, de forma recíproca.

Talvez por isso você tenha se sentido traído por algumas críticas que lhe fiz nesta sua rápida passagem pelo Verdão. Se isso aconteceu, pergunte a seu pai a meu respeito, e ele lhe dirá quem sou e, principalmente, quem fui quando ele ocupou o lugar que, até ontem, era seu. Sabe, Eduardo, sou um jornalista lido diariamente por inúmeros torcedores, respeitado pela grande maioria deles e, graças a Deus, querido pelo menos por alguns deles. Por isso, jamais mentiria àqueles que me honram todos os dias com o acesso a esta página apoiando um trabalho ou um profissional que, ficou provado, ainda não está preparado para assumir o comando de um time do tamanho do Palmeiras, com todas as delícias e dores que disso decorrem.

Seu pai, tenho certeza, deve tê-lo alertado sobre isso. Deve ter dito que, para dar certo em nosso clube, não basta vencer – há também que convencer. Há torcidas, Eduardo, que não estão nem aí para o futebol que o time apresenta – para elas, o que importa é a vitória, e se esta vier com um futebol feio, truncado, defensivo, que se dane. Até mesmo se a conquista for favorecida pela arbitragem estará valendo. Se você ainda não sabe à qual torcida me refiro, pergunte ao velho Nelson e ele, tanto quanto muitos ou mesmo mais do que ninguém – e por motivos óbvios -, saberá lhe falar sobre um bando de loucos que perambula por aí.

Nós, os palmeirenses, não somos assim, Eduardo. Para a gente, o Verdão precisa vencer e convencer. É claro que ficamos orgulhosos com viradas como a que sua equipe conseguiu no Uruguai ou felizes com vitórias no último lance do jogo, iguais à que seu time teve diante dos bolivianos – mas daí a isso nos satisfazer existe uma distância abismal. O torcedor do Palmeiras, cara, é diferente do torcedor de outros clubes. Não, não somos mais fanáticos, ou mais vibrantes, ou mais apaixonados – somos é muito, mas muito mais chatos. E mesmo aqueles que não descendem de italianos parecem que só pelo fato de amarem o verde e o branco assumem uma característica inerente àqueles que de lá vêm: nós amamos e odiamos na mesma proporção, e muitas vezes simultaneamente.

Na verdade, mesmo sem ter tido a chance de conhecê-lo pessoalmente, creio que você mesmo já havia percebido que não daria certo na Academia. Você é um cara que trabalha com determinação, que estuda com dedicação, que se entrega com abnegação, mas que não consegue os resultados que espera porque lhe falta algo que  nenhum curso preparatório no mundo é capaz de prover: tempo de vida. Só com o passar dos anos e o acúmulo de sucessos e insucessos é que você estará pronto para atingir o patamar que deseja e merece.

Mas eu tenho uma ótima notícia: você o atingirá. Daqui a algum tempo – talvez menos do que possa imaginar -, você olhará para trás e verá o quão importante o Palmeiras foi em sua vida e o quanto aprendizado tirou de sua primeira passagem pelo nosso clube. E, aí sim, estará pronto para assumir a direção do maior campeão do futebol brasileiro.

Até um dia, Eduardo”. 

Fotos: Djalma Vassão

24 Responses to ATÉ UM DIA, EDUARDO

  1. S.E.PRESIDENTE PRUDENTE

    MARCIO: Desde o inicio, fui um torcedor que decidiu dar chances ao Eduardo Batista e tanto no seu blog como em grupos de “zap zap” sempre o defendi diante de algumas criticas pré maturas. Mas, como você mesmo disse: “somos chatos demais” e não temos tempo para correr riscos e portanto, chegou a hora de dizer um “até um dia se Deus desejar”. O Eduardo merece chances em outros clubes e com certeza essa reviravolta lhe dara mais bagagem para o futuro. Enfim, que o Cuca chegue com seu batalhão e “bora” pra guerra que sera essa ano daqui pra frente. Mas, de Guerra nós entendemos, pois temos um e portanto, titulos virão com certeza. Como fanatico que sou, vou dizer apenas uma coisa: SEPAREM AS TAÇAS.

    • Márcio Trevisan

      Ildebrando: EB teve suas chances, mas apesar de alguns bons resultados todo mundo via que a bola do time estava pequenina.

      Chega uma hora que é melhor cortar logo do que ficar esperando a próxima derrota.

      Abs.

  2. Fábio P. R.

    CONFIRMADO, CUCA ESTÁ DE VOLTA

  3. Márcio também desejo toda a sorte do mundo ao EB, que ele estude muito e retorne o mais breve possível, daqui uns 50 anos está ótimo. abraços.

  4. ANTONIO O VERDÃO

    Olá Márcio, bom dia!

    Ótimo texto.
    Eu particularmente não acompanho técnicos de outros clubes, portanto, não sei quando um técnico é bom ou ruim até ele estar ou já ter passado pelo Palmeiras, exceto poucos como Tite e Mano Menezes e o Muricy, este ultimo foi o pior que o Palmeiras já teve.
    Claro que torci para o E.B. sair do comando do Palmeiras, simplesmente porque quero(emos) ser campeões da libertadores, da Copa do Br e do Brasileirão 2017. E não existe no mundo torcida que não queira ver seu clube ser campeão. E não preciso de bola de cristal para ver que não beliscaríamos nada, seriamos novamente o time do ano que vem.

    Abraço.

    • Márcio Trevisan

      Obrigado, Verdão.

      Vc falou bem: se ele permanecesse, seríamos o time mais forte para 2018.

      E isso é pouco pra nós.

      Abs.

  5. Olá Márcio.
    Bom dia.

    Confesso que fiquei pasmo com a notícia pela madrugada da demissão do EB. Sinceramente não esperava o quão rápido no gatilho seria a atitude da diretoria ao fazê-lo, pois irritantemente, leva-se dias, titubeios, juras de “prestigio” (alguns dias atrás, li algures que alguém da cúpula alviverde dissera que o EB ficaria até o fim do ano, para meu desespero, rsrs). Acredito que para tomar uma decisão relâmpago desse tipo, às vésperas de uma classificação certeira, a diretoria já tinha um ás na manga. Seria a volta triunfante do Cuca (estariam acertados em segredo antes do jogo de Cochabamba?). No caso de não ser o Cuca, gostaria que fosse o Luxemburgo, pois gosto muito do trabalho dele. Apesar de ser um negocista mal-caráter (é o que que dizem seus desafetos, não sei), Luxemburgo ainda é, na minha opinião, o melhor técnico brasileiro e um time cheio de estrelas como o nosso, (é o que ele mais gosta de trabalhar) seria o ideal para ele. Sempre comentei que em 2009, fosse ele o técnico, seríamos campeões do brasileirão com um pé nas costas.

    Um abraço, Márcio.

    Roberval

    • Márcio Trevisan

      Roberval: vc tem razão.

      Se o então presidente Belluzzo não o tivesse traído e mantido Keirrison, seríamos os campeões brasileiro de 2009 com muita facilidade.

      Luxa foi o melhor técnico com quem trabalhei, mas vc mesmo disse: há algum tempo ele deixou de ser apenas técnico. E este é o problema.

      De qualquer forma, creio que a situação é a seguinte: 80% para Cuca, 10% para Wanderley Luxemburgo e outros 10% para uma surpresa (um passarinho me soprou o nome de Abel Braga).

      Abs.

  6. Roberto Alfano

    Bom dia, muito boa sua crônica de agradecimento caro Trevisan, porem gostaria de afirmar que o Palmeiras é mais forte do que qualquer Ego.

    Nossa imensa Torcida é e sempre foi exigente.

    O Palmeiras tem Time para ser Campeão, e não brigar nos últimos minutos de cada jogo.

    Força Verdão vamos a luta.

    Abraço, e desculpe o desabafo.

    • Márcio Trevisan

      Alfano: agradeço o elogio.

      E penso exatamente como você: quem gosta de ganhar no último minuto é um certo time da Zona Leste da Capital.

      Nós gostamos é vitórias construídas durante todo o jogo.

      Abs.

  7. Sobre técnicos revolucionários e estudiosos penso o seguinte:=
    1º Time a revolucionar o futebol Mundial
    Seleção da Hungria em 1954 – Técnico com táticas revolucionarias Gustav Sebes, jogadores espetaculares Puskaz, Hidegkuti, Kocsis, Czibor.
    Resultado :- Campeão a Alemanha com futebol força e pragmático.

    2º Time a revolucionar o futebol Mundial
    Seleção da Holanda em l974 – Técnico com táticas revolucionárias Rinus Michels, jogadores espetaculares Cruyff, Neeskens, krol, Haan,
    Resultado :- Campeão a Alemanha com futebol força e pragmático.

    3º exemplo no futebol brasileiro com técnico teórico Claudio Coutinho
    Resultado fomos os “campeões morais em 1978″
    Campeão de fato – Argentina de Cesar Menotti ( como jogador em final de carreira aprendeu TUDO simplesmente do Juventus da Rua javari em São Paulo )

  8. Marcio Toledo

    Parabéns, Xará!
    Belíssimo e oportuno texto.
    Grande abraço.

  9. PAULO SERGIO

    Caro Marcio sei do seu apreço pelo Nelsinho, porem devemos separar o joio do trigo.
    Ninguém pode ser avaliado pro ser filho de alguém.
    Ou serve ou não serve.Ou é bom ou não é.
    O próprio Nelsinho sucumbiu no Palmeiras com todo aporte financeiro da Parmalat .
    Foi dado condições e ele não soube aproveitar.
    Se ele Nelsinho criou na época atrito com jogadores importantes na época , caso específico do Evair, o seu filho acabou fazendo o mesmo e com certeza perdeu o comando do elenco ao criar atrito com certos jogadores.Talvez tenha ficado mais in off, porem era nítida a insatisfação de alguns , embora dissessem que não havia problema algum.
    Quando observamos a trajetória de um profissional, sempre devemos no ater em que area atuou, como se saiu, se era uma profissional com condições.
    E.B. sempre atuou na preparação física.
    Desde seu inicio em 1998 até 2014.Virou auxiliar a se arriscou como treinador.
    O Sport lhe concedeu a chance e ele foi bem, até porque estava lá como preparador fisico e virou treinador interino.E convenhamos não é dificil fazer um trabalho satisfatório no Sport.Leão , Helio dos Anjos também fizeram e não eram treinadores tão capacitados.
    Foi para o Fluminense, como treinador, seu primeiro desafio.Sucumbiu.
    Foi para Ponte, outro clube que não é dificil fazer um trabalho satisfatório, Kleina, Guto também fizeram e hoje rondam por times de menor expressão.
    Tudo isso meu caro Marcio que o EB não emplacou no Palmeiras , assim como no Fluminense, e talvez não esteja preparado para assumir um time grande.
    E talvez tenha que rever conceitos onde é melhor fazer o mais fácil ou permanecer naquilo que havia dado certo do que tentar ser o “estrategista” que vai revolucionar o futebol.
    SERIA : DÁ COMIDA PARA OS MACACOS E NÃO MEXE EM NADA..rsrsr

    • Márcio Trevisan

      Olá, PS.

      Apenas três considerações:

      1 – A memória o traiu. Nelsinho não tinha todo o aporte financeiro da Parmalat. O treinador assumiu o comando do time em junho de 1991, e a empresa só passou a cogerir o futebol do clube em abril de 1992 – portanto, quase um ano mais tarde.

      2 – Nelsinho permaneceu no comando do Palmeiras até agosto de 1992, período em que apenas três jogadores “um pouco acima da média” foram contratados pela empresa: o meia Jean Carlo e os pontas Carlinhos (direita) e Paulo Sérgio (esquerda). Todos os craques adquiridos pela Parmalat chegaram no fim de 1992, como Mazinho e Zinho, ou então a partir de 1993.

      3 – Nelsinho fez um bem imensurável ao Palmeiras ao afastar Evair e os outros três jogadores (Ivan, Andrei e Jorginho). Digo isso porque na época cobria o clube pelo jornal A Gazeta Esportiva e vi tudo bem de perto. Falando especificamente sobre o centroavante, ele só se tornou um dos maiores ídolos da nossa história graças exatamente a esta punição que lhe foi imposta pelo treinador. E isso quem diz não sou eu, é o próprio atacante. O período em que treinou separadamente serviu para que o camisa 9 refletisse sobre todas as equivocadas e indisciplinadas atitudes que havia tomado e, quando retornou ao grupo, já sob o comando de Otacílio Gonçalves, só então Evair passou a ser um profissional na melhor concepção da palavra.

      Abs.

  10. Bom dia, Marcio.

    Não conheço absolutamente nada do Sr. Eduardo Baptista, mas se ele é o estudioso que você diz, acredito que esse seria o momento para ele estudar sua passagem pelo Palmeiras. Existem desafios que nos são colocados na vida que demandam – como você mesmo disse – mais do que estudo e dedicação. Demandam experiência.

    Infelizmente, o Sr. Eduardo Baptista não tem, nesse momento, a experiência necessária para liderar uma equipe com as ambições e exigências atuais do Palmeiras.

    A culpa, em hipótese nenhuma, é dele. A culpa é daqueles que não foram visionários para identificar essa condição e o colocaram em uma situação muito complicada. À diretoria de futebol do Palmeiras, fica um aprendizado: não se faz testes e apostas quando se tem recursos humanos e financeiros disponíveis ao clube e objetivos tão grandiosos vindos daqueles que disponibilizam esses mesmos recursos humanos e financeiros. É muita ingenuidade, seja da diretoria pelo que fez, ou nossa, por pensarmos de forma muito simplista e esquecer da política e bastidores que dominam o futebol.

    Ao Sr. Eduardo Baptista, também desejo muito sucesso. Torço para que um dia, superado esse momento passageiro, ele possa voltar ao nosso clube. Dessa vez, mais calejado dos inconvenientes que o futebol exige.

    Um forte abraço.

    Valter

  11. Excelente artigo Márcio, alinhado perfeitamente com o que todos os palmeirenses gostariam de dizer. E para comprovar o que você disse é só olhar a nossa história e ver que sempre fomos uma acadêmia. Abraços.

    • Márcio Trevisan

      Muito obrigado, Tadeu.

      Vc, que me acompanha há muito tempo, sabe que não é para todo treinador que escrevo o que escrevi.

      Fi-lo porque sei que, um dia, EB será um grande treinador.

      Abs.

  12. Parece ser uma ótima pessoa mas não dá pra treinar o Palmeiras. Não agora, quem sabe no futuro. Desejo boa sorte na carreira. Sinceramente eu acho que ele daria mais certo como diretor de futebol, nos bastidores.

    • Márcio Trevisan

      Ed: foi o que eu disse.

      Um pouco mais de experiência, mais uns dois ou três anos de carreira, e aí sim ele estará preparado para uma grande equipe.

      Abs.

  13. Jorge Farani

    Marcio,
    Infelizmente perdemos um técnico estudioso e correto. Isso sempre ocorre por conta de “uma bandidagem” que se diz palmeirenses e que vive só para pressionar os nossos dirigentes causando crises no nosso clube.
    Gostaria que o Cuca não tivesse saído, porém como aconteceu, que ele retorne bem, porque do contrário sairá do mesmo jeito que o Eduardo Baptista está saindo, pois esse grupo “inimigo da paz”, vive sempre as custas do tumulto.

    • Márcio Trevisan

      Farani: isso não é exclusividade do Palmeiras.

      Sempre que os resultados ou o futebol não convencem quem perde o emprego é o treinador.

      Sempre foi assim e sempre será, pelo menos no Brasil.

      Em tempo: respeito sua opinião, mas no meu odo de ver a diretoria agiu corretamente.

      Abs.

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