HÁ 96 ANOS, O PRIMEIRO DE INÚMEROS

 Há quase um século, Palmeiras se tornava aquilo que sempre foi e será: campeão!

Dois dias antes de oficialmente se tornar dono do Parque Antártica, o Palestra Itália estreou no Campeonato Paulista de 1920. E o resultado não poderia ter sido mais positivo e, ao mesmo tempo, mais indicativo do que estava por vir: jogando no Campo da Ponte Grande (portanto, fora de casa), goleamos o Corinthians por 3 a 0, com dois gols de Heitor e outro de Ministro. 

De fato, a diretoria havia se empenhado muito na aquisição do campo de jogo, mas não menos na manutenção da equipe que no ano anterior havia se sagrado vice-campeã. O ótimo desempenho do time no Paulistão de 1919 era um bom indício de que a política do clube, no que se referia ao futebol, estava correta. Assim, a única mudança que aconteceu entre os titulares se deveu a uma decisão tomada pelo zagueiro Bianco, capitão e também técnico do grupo. Foi ele quem determinou que o goleiro titular do alviverde não seria mais Flosi, mas sim Primo. 

Assim, com um novo titular na meta, os palestrinos deram o pontapé inicial naquele Campeonato Paulista. Aliás, foi um começo pra lá de arrasador: oito vitórias em oito jogos! Algumas delas, aliás, obtidas com resultados históricos, como o 7 a 0 sobre o Mackenzie, em 26/05, ou os 11 a 0 diante do Internacional da Capital/SP, em 08/08 (por sinal, até hoje a maior goleada da história do nosso clube em jogos oficiais).    

Nosso principal concorrente, claro, era o todo-poderoso Paulistano. De longe o melhor time do País devido, principalmente, à presença em seus quadros do mulato Arthur Friedenreich, o melhor jogador de futebol do planeta até o surgimento de Pelé, o time do Jardim América lutava pelo pentacampeonato paulista. Contudo, pelo menos no primeiro turno daquela competição seu desempenho deixou a desejar. Ao final das nove primeiras rodadas, estava a aparentemente inalcançáveis seis pontos de distância em relação ao líder, ou seja, o Palestra – 11 contra 17, para ser mais claro. Mesmo assim, foram os paulistanos os únicos a impedirem uma vitória palestrina no turno daquele Paulistão (empate por 1 a 1, em 15/08).   

Não sei se notaram que, no parágrafo acima, usei o termo “aparentemente”. Pois é: parecia que o Paulistano não teria condições de alcançar o Palestra Itália no returno do Campeonato Paulista, mas nem sempre o que parece é. Talvez por comodismo, talvez por excesso de confiança, nossa equipe caiu bastante de produção no segundo turno e, dos oito jogos seguintes (o clássico com o Santos foi cancelado porque a equipe do Litoral paulista desistiu de disputar o restante do torneio), empatou um e perdeu dois. 

Os primeiros campeões pelo Palestra Itália

Uma destas derrotas doeu demais. Na última rodada daquele Paulistão, em 12/12, o Palestra Itália só dependia de um empate diante do Paulistano para garantir o título, já que somava 28 contra 26 pontos do rival. Se já não bastasse tal vantagem, o jogo ainda por cima seria realizado no Parque Antártica, ou seja, diante de um público que, em sua esmagadora maioria, seria palestrino. Nosso time suportou a pressão dos primeiros minutos tanto no primeiro quanto no segundo tempo mas, aos 22 da etapa final, o Paulistano conseguiu furar nosso bloqueio. Ganha um doce quem apostou que o autor da façanha foi Friedenreich. 

Assim que Walter Raul Hampshire apitou o fim daquele clássico, Palestra e Paulistano estavam empatados na primeira colocação com 28 pontos. Mandava o regulamento que, neste caso, um jogo-extra fosse disputado, e ele foi marcado para o domingo seguinte, 19/12, no neutro Campo do Floresta. 

De um lado, o gigante Paulistano, tetracampeão estadual, com Friedenreich e outras feras; do outro, aqueles italianos contra os quais tanto se tentara e tanto se fizera para que não estivessem ali, disputando a condição de melhor time do Estado. Assim que Herman Friese apitou o início do jogo, o que se viu foram duas equipes aguerridas e voluntariosas, lutando de maneira impressionante pela posse da bola. Talvez por isso se explique o justo empate sem gols, que perdurou até o fim do primeiro tempo. 

Na etapa final, porém, o jogo começou quente. Logo aos 5 minutos, o ponta-esquerda Martinelli colocou o Palestra Itália em vantagem, levando à loucura os seus torcedores, maioria absoluta nas dependências do estádio. Mas nossa alegria não duraria muito: aos 14 minutos, Mário se aproveitou de um cochilo da defesa palestrina e empatou a partida. O alviverde não se deixou abater: mesmo num jogo equilibrado, conseguiu se impor e, aos 29, outro ponta, o direita Forte, mais uma vez deixou o Palestra Itália em vantagem. 

Daí em diante, meus amigos, conta a história que todo o time palestrino se fixou no campo de defesa. Até o goleador Heitor abriu mão do que melhor sabia fazer – ou seja, gols – para dar uma força na marcação. Foi uma pressão incrível do Paulistano, que durou exatos 16 minutos, quando se expirou o tempo regulamentar e o árbitro deu o jogo por encerrado. 

Explosão de alegria, que se materializou em verde, branco e vermelho. O verde, cor da esperança daqueles italianos que, por mais difíceis que foram as situações, jamais haviam deixado morrer o sonho de ter um time de futebol. O branco, cor da pele daqueles imigrantes, que tiraram do próprio bolso os recursos para manter vivo o clube que tanto amavam. O vermelho, do sangue que corre nas veias de um povo tão apaixonado por tudo o que faz. Enfim, o Palestra Itália era campeão paulista. 

         Naquela São Paulo/SP às vésperas do Natal de 1920, faltou vinho tinto para tanta festa.

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