VÁGNER, O BACHAREL DA BOLA

Jogador chega desconhecido à Academia e se transforma em um dos melhores zagueiros de nossa história.

Durante os difíceis anos 80, década pela qual o Palmeiras passou em branco no campo das conquistas significativas, vários foram os jogadores contratados com a missão de por um fim à angústia por que passava nossa torcida.

Em 1983, por exemplo, quando já contávamos sete anos sem a faixa de campeão, a diretoria montou um verdadeiro esquadrão, no qual se destacavam nomes como João Marcos (goleiro), Perivaldo (lateral-direito), o eterno Luís Pereira (zagueiro-central), Nenê Santana (quarto-zagueiro), Batista e Rocha (cabeças-de-área), Cléo, Carlos Alberto Borges e Jorginho (meias), Enéas e Carlos Alberto Seixas (atacantes) e Carlos Henrique (ponta-esquerda). Um timaço, sem dúvida.

Mas houve também contratações sem tanto impacto. Como sempre acontece, alguns atletas chegam apenas para compor o elenco, caso específico do zagueiro Vágner. Vindo do pequeno Joinville/SC, ninguém deu muita atenção àquele mulato alto e bigodudo, então já com 29 anos. Ele tinha tudo para ser apenas mais um, mas foi muito mais do que isso.

Bastaram apenas alguns treinamentos para que o então treinador Rubens Minelli percebesse que Vágner teria de jogar. Mas onde? Luís Pereira, claro, era intocável, e Nenê Santana chegava com status de zagueiro reserva da Seleção Brasileira que encantara o mundo um ano antes. Foi então que o técnico, aproveitando-se da versatilidade do desconhecido zagueiro e da dificuldade de adaptação ao futebol paulista apresentada por Perivaldo, resolveu escalá-lo na lateral direita.

Mesmo atuando fora de sua posição original, Vágner deu conta do recado e se transformou em um dos destaques do time naquele Campeonato Brasileiro. Pouco depois, com a contusão sofrida por Nenê Santana, voltou à zaga e fez com que Luís Pereira se lembrasse dos tempos em que jogava ao lado de Alfredo Mostarda, na campeoníssima Segunda Academia.

O tempo foi passando e Vágner, que chegara apenas para compor o elenco, foi ficando. A cada jogo, aumentava seu prestígio junto à torcida, e não foram poucos os jornalistas que exigiram a convocação dele e de Luís Pereira para a Seleção Brasileira que disputou – e perdeu – a Copa América de 1983.

Seu futebol, então já admirado pelos torcedores e respeitado pelos adversários, cresceu tanto que, no ano seguinte, aquele desconhecido mulato alto e bigodudo se tornou o Vágner “Bacharel”, apelido que resumia bem a classe que demonstrava em campo. Quando da perda do título paulista de 1986 para a Inter de Limeira, em pleno Morumbi, muitos garantiram que o fato se deu devido à ausência do então já capitão palmeirense que, contundido, não participou da finalíssima.

A história de Vágner Bacharel no Verdão terminaria no ano seguinte, quando já iniciando o processo de encerramento da carreira foi negociado com o Botafogo/RJ. O que ninguém esperava era que a história de sua vida seria tão curta: em 1990, atuando pelo Paraná Clube/PR, chocou-se de cabeça com um jogador do Toledo/PR e imediatamente entrou em coma, estado em que permaneceu por três dias. Recuperado, teve alta mas, dias depois, voltou a sentir fortes dores de cabeça e acabou falecendo no dia 20 de abril de 1990, com apenas 35 anos.

De Vágner Bacharel restou apenas a ótima lembrança de um grande jogador, de um grande caráter e, pelo menos enquanto defendeu nossa camisa, de um grande palmeirense. E, por tudo isso, ele terá para sempre um lugar muito especial reservado no coração de cada um de nós.

Ficha Técnica

Nome: Vágner de Araújo Antunes
Posição: Zagueiro
Data e Local de Nascimento: 11/12/1954, no Rio de Janeiro/RJ
Data e Local de Falecimento: 20/04/1990, em Curitiba/PR
Estreia: 23/02/1983 – Mixto/MT 0 x 3 Palmeiras
Despedida: 23/08/1987 – Palmeiras 1 x 3 São Paulo/SP
Jogos: 255
Gols: 22

Obs.: Esta seção será atualizada em 25/10/2011.

10 Responses to VÁGNER, O BACHAREL DA BOLA

  1. Wagner Antunes Jr

    Linda História..! COmo FILHO do saudoso Bacharel, gostaria de agradecer a lembrança. E a maior herança que ele me deixou foi continuar sendo PALMEIRENSE. Sou palestra a té morrer, não importa o que aconteça! Abraços!!

    • Márcio Trevisan

      Olá, Wagner.

      É uma honra pra mim saber que o filho de um grande craque da nossa história acompanha o meu trabalho.

      A homenagem a seu pai é muito mais do que merecida, pois para se tornar um ídolo nem sempre é imprescindível ter sido campeão.

      Espero continuar contando com seus acessos em nosso humilde, porém 100% palmeirense, site.

      Abraços.

      • Wagner Antunes Junior

        Eu que agradeço Márcio, por manter viva as lembranças do meu pai. Infelizmente ele não ganhou nenhum titulo pelo Palmeiras (Poderia ter sido em 86), mas minha mãe conta que ele chorou muito depois da final (final que ele não jogou).

        Um forte abraço!!

        #AvantiPalestra

    • Eduardo Scandaroli

      Márcio como vai?

      Trabalho numa produtora de Audiovisual aqui em São Paulo e estamos produzindo um documentário do Palmeiras do ano de 1993, “12 de Junho de 1993″. Gostaria de falar com você sobre isso.

      Me mande um e-mail, me ligue ou me passe teus contatos:

      [email protected]
      (11) 9 9151-1913

  2. Cassiano Tafuri

    Pô, Marcio, em 1984 o time era bom também, poderia ter conseguido alguma coisa no paulistão. O problema foi o lance do Mario Sergio com o doping.
    A situação tá preta mesmo, tô tão desiludido com esse Palmeiras atual que até saudade da década de 80 eu estou!!! Jesus !!!!

    • Márcio Trevisan

      Cassiano: vc tem razão quanto ao time de 1984, mas apenas no primeiro semestre. Como bem lembrou, após o doping do MS, o time acabou.
      Abs.

  3. Cassiano Tafuri

    Quem diria que sentiriamos saudades dos anos 80. Parecia ter sido tão ruim, mas tenho certeza que foi bem melhor do que os ultimos 11 anos.
    Saudade do futebol de antigamente.
    Pensando bem, os times que o Palmeiras teve de 1980 até 1989 foram bem melhores do que os times que tivemos nos ultimos 10 anos. O problema é que enfrentavamos adversarios mais fortes.
    Hoje, se tivessemos o time de 86 ou 89, ganhariamos esse brasileirão de 2011 facilmente.

    • Márcio Trevisan

      Cassiano: os times montados em 1983, 1986 e 1989 eram, de fato, muito, mas muito superiores ao atual – não há nem comparação.

      Por outro lado, tivemos times horríveis, em 1982, 1984, 1985e 1988. Estes, sem exceção, também eram piores do que o de hoje – eolha que não contavam com Dinei, Fernandão, Rivaldo, Gerley…

      Abs.

  4. ROBERTO ALFANO

    Caros Trevisan e Celso muito boa Lembrança,quantos Bachareis o Palmeiras de hoje necessita!!!!! e olha que naquela época não tinha tanto Dinheiro!!! como pedem os jogadores de hoje!!! mais tinha muita Raça,Vontade de Vencer e serem Campeões…
    Abs.

  5. Grande Bacharel!
    Tenho uma história bacana com ele.Minha primeira vez em um jogo do Palmeiras foi justamente na despedida de Ademir da Guia, no Canindé,em janeiro de 1984. Entrei em campo no colo do Vágner e saí na foto do time. Tenho até hoje guardada a camisa 6 que ele me deu.Saudades de figuras assim no Palmeiras.

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