CAP.15: ABAIXO O PROFISSIONALISMO !

Expulsão de clube escocês pela APEA abre espaço para entrada do Palestra no Paulistão/1916. Mas, e daí?

Contar com o apoio de importantes empresas não é privilégio do futebol atual. Na verdade, desde os primeiros chutes na antiga bola de capotão já havia a participação direta de indústrias e lojas comerciais, que se dava da seguinte forma: como o futebol era amador, estas firmas contratavam os jogadores do clube que mais lhe agradasse para as mais diversas funções, desde porteiros e faxineiros até motoristas e escriturários.

Desta forma, os “empregados” recebiam mensalmente seus salários mas, na verdade, quase nunca apareciam nos locais de trabalho. Com isso, burlavam a legislação e podiam jogar normalmente. Isso não acontecia com todos os atletas, mas com a maioria deles.

Símbolo do Scottish Wanderers

O Scottish Wanderers, porém, não dispunha de tal regalia. Às vésperas do Campeonato Paulista de 1916, um escândalo veio à tona. Inconformado por não ter sido aceito no time, um jogador denunciou o esquema que mantinha vivo o clube da colônia escocesa: após cada partida, o valor arrecadado com a venda de ingressos não era destinado às despesas gerais, mas sim dividido entre todos os atletas. Isso configurou profissionalismo, e a APEA jamais iria aceitar tal desonra.

Você que ora passa os olhos por estas linhas certamente deve estar se perguntando: por que, afinal, se odiava tanto a idéia de o futebol se tornar profissional? A resposta é simples, caro internauta: os homens que comandavam o esporte naquela época, entendiam que ele só teria futuro se fosse disputado com abnegação, com amor, e não por dinheiro. Claro que os dirigentes da entidade paulista sabiam da contratação de jogadores por parte de empresas, mas faziam vistas. Mas daí a atletas “receberem dinheiro” para jogar…

Comprovada a irregularidade, o Wanderers foi expulso da APEA e, claro, não pôde disputar o Campeonato Paulista seguinte. Aliás, poucos dias depois acabou sendo extinto. Abria-se uma vaga, e é evidente que o Palestra Itália a ela se candidatou. Afinal, só não estava inserido no torneio porque perdera a chance ao ser goleado pelo Santos/SP, como lembramos em nosso mais recente encontro.

Alegres e sorridentes, lá foram os italianos novamente à sede da Associação Paulista de Esportes Atléticos pleitearem um lugar no Paulistão/16. Estavam eles certos de que não teriam problemas, que não encontrariam resistências, mas na verdade de certos eles não tinham nada. Mais uma vez, as portas da entidade lhes foram fechadas. A alegação oficial era que uma equipe que perde por 7 a 0 não tem nível para disputar uma competição tão importante.

Contudo, o real motivo era bem diferente: o que nosso clube já enfrentava, desde então, era um grande preconceito, uma xenofobia explicável apenas pelo fato de muitos italianos e oriundis já terem enriquecido e, por isso, se tornado patrões de inúmeros brasileiros. Em outras palavras: era puro despeito.

Foi então que alguns destes italianos de sucesso, todos pertencentes à IRFM – Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – entraram na briga pelo direito do Palestra Itália disputar o Campeonato Paulista de 1916. Mas esta é uma história para o nosso próximo encontro.

Quer opinar sobre este texto? Escreva para [email protected]

Obs.: Esta seção será atualizada em 28/05/2011.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

*

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>