CAP. 1 – O ESCRAVO E O IMIGRANTE

Porto de Santos/SP, final do Séc. XIX

Brasil, final século XIX. De repente, a chibata não cortava mais a pele das negras costas como antes o fizera, nem os braços no canavial e nas plantações de café eram, como antes, tão escuros.

A cada dia que passava, crescia a pressão para que a abolição dos escravos se tornasse, enfim, uma realidade também por aqui, como já o era em todos os países do mundo. Fato que envergonha a história da humanidade, a escravidão teve vida longa em nosso País, cujos “coronéis” dos campos ditaram as regras da Política enquanto quiseram e adiaram a Lei Áurea o quanto puderam.

Mas já chegava a hora de a sociedade brasileira dar um basta às atrocidades cometidas em nossas fazendas. Intelectuais, jornalistas, empresários e uma boa parcela do povo saíram às ruas exigindo o que hoje parece ser óbvio, mas que naquela época soava como a mais pura perturbação da ordem pública e o mais intenso incentivo à anarquia: a igualdade entre todos os brasileiros, fossem eles brancos ou não.

Haveria, porém, um sério problema a partir do exato instante em que as primeiras correntes de ferro fossem rompidas e o primeiro tronco, mais pelo remorso do que pela podridão, caísse morto a terra: numa sociedade amplamente rural, em que as mais tímidas e iniciantes indústrias ainda apenas engatinhavam, quem iria substituir a força negra no plantio e na colheita?

Até mesmo os mais ferrenhos abolicionistas temiam que o tempo necessário para a completa transformação do “modus operandi” que reinava em terras brasileiras fosse prejudicial à economia nacional.

A idéia inicial era que os mesmos negros que até então serviam em regime de escravidão fossem contratados como trabalhadores, recebendo pelos seus feitos. De fato, muitos deles aceitaram esta nova ordem social, mas a maioria preferiu abandonar os cafezais e as roças para desfrutar de uma liberdade sonhada durante toda a vida. Após várias gerações, enfim os homens negros eram livres e, se assim estavam, não havia mais nada que os prendesse às fazendas e, consequentemente, às terríveis lembranças do passado.

Temendo pelo futuro do País, as autoridades iniciaram antes mesmo da abolição total da escravidão uma política voltada para o incentivo às imigrações. Campanhas “de boca a boca” foram feitas para que europeus cruzassem o mundo e viessem para o Brasil. Aqui, já dissera o português Pero Vaz de Caminha, “em se plantando, tudo dava”.

Nada melhor para os habitantes do Velho Mundo, então lutando com todas as suas forças contra o rigoroso inverno e a escassez de alimentos, entre outros problemas quase ou ainda mais graves. A idéia deu certo e, aos poucos e cada vez em maior número, aqueles homens, mulheres e crianças de olhos e cabelos claros começaram a sentir na pele os efeitos do nosso Sol.

Santos, 17 de janeiro de 1882. No convés, ainda mareado pelo constante e ritimado balanço da embarcação, Caetano Tozzi estica o pescoço e mira, a quilômetros de distância, o porto da cidade. Dentro de poucas horas, enfim estaria terminada a epopéia que iniciara na Itália, meses antes. Faltava pouco para que seus pés, envolvidos por velhas botinas, pisassem o solo brasileiro.

Ele contou cada onda e cada metro que o navio Colombo venceu até conseguir se aproximar do cais. Carregando nas mãos a puída mala que continha suas poucas e já tão rotas roupas, ele foi se desvencilhando de cada um dos italianos que estavam à sua frente e, assim, entrou para a história do País: é dele a primeira assinatura italiana nos serviços paulistas de imigração.

Em nosso próximo encontro, você entenderá como a abolição dos escravos, a chegada dos imigrantes e também Caetano Tozzi ajudaram no parto que trouxe à luz o nosso Palestra Itália.

Obs.: Esta seção será atualizada em 12/02/2011.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

*

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>