CAP. 31 – VAI ENTENDER…

Absurda e inexplicável decisão da diretoria impede Palestra de lutar pelo título

Na história de todos os clubes de futebol deste mundo de meu Deus existem fatos que não podem ser explicados. Seja pelas informações que hoje, muitos anos mais tarde, são raríssimas ou mesmo inexistentes, seja por pura teimosia de dirigentes, técnicos ou atletas, o fato é que tais situações acabam por se tornar quase que uma lacuna, um buraco negro na vida destas agremiações.

Foi o que aconteceu com o Palestra Itália no Campeonato Paulista de 1923. Percebendo que alguns jogadores começavam a cair de rendimento, os diretores esportivos João Gamba e Sylvio Lagrecca (este também técnico do time) iniciaram uma tímida, porém consistente renovação no elenco, dispensando nada menos do que seis atletas – Falchini, Pilla, Salvador, Zanella e, para surpresa geral, também os ídolos Gasperini e Picagli, este um dos principais nomes da equipe e presente em várias convocações para a Seleção Brasileira.

Em contrapartida, outros seis nomes chegaram para o nosso clube – Cassarini, Coe, Pagni, Perillo e, sobretudo, os médios Pepe (direito) e Serafini (esquerdo), que fariam história com a camisa verde e branca. Até aí, nada fora do comum, pois estas trocas sempre foram normais no mundo do futebol. O que causou espanto e, mais ainda, indignação, foi a decisão tomada por ambos os dirigentes e também pelo presidente Francisco de Vivo.

Nosso time começou bem o torneio estadual, vencendo quatro e empatando um dos cinco primeiros jogos. Uma vertiginosa queda de rendimento nas quatro rodadas seguintes, quando perdeu sete dos oito pontos que disputou, gerou um início de crise e, claro, também colocou em risco as chances de título. No entanto, outras quatro vitórias e um empate nos cinco compromissos seguintes novamente deixaram o alviverde em totais condições de brigar pela taça nos quatro compromissos que ainda teria pela frente.

E foi justamente na vitória sobre o Germânia/SP por 3 a 2, em jogo disputado no dia 9 de setembro de 1923 no Parque Antarctica, que tudo aconteceu. O clube de origem alemã reclamou muito da arbitragem de Sebastião Cravallos, que anulou um gol da equipe no último lance da partida alegando que já havia apitado o seu término. Assim, impediu que o resultado final fosse um empate por 3 a 3. Os dirigentes “germânicos” levaram o caso à APEA que, no entanto, confirmou a vitória palestrina.

Muito bem: o que o Palestra Itália tinha a ver com isso? Nada, absolutamente nada. Porém, mesmo assim, os dirigentes Gamba e Lagrecca e o presidente de Vivo, alegando que a grandeza do clube havia sido arranhada por não ter o Germânia/SP reconhecido esportivamente a derrota, decidiram que, em protesto, nosso clube não entraria em campo na partida seguinte, contra o Corinthians/SP, justamente a equipe que mais lutava pelo troféu de campeã. Diante de tal postura, a Associação Paulista de Esportes Atléticos, entidade que organizava o campeonato, deu os pontos do clássico ao nosso maior rival que, desta forma, arrancou para a conquista de mais um Campeonato Paulista, de nada nos valendo as três vitórias que obtivermos nas três últimas rodadas.

Em tempo: se tivéssemos vencido o jogo que não disputamos, teríamos terminado a competição com dois pontos perdidos a menos do que os corintianos e, claro, também com a taça de campeão paulista de 1923.

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