DIVINO PELA PRÓPRIA NATUREZA

Ele tinha tudo para ser apenas o filho de Domingos, jogador que só poderia mesmo ter o nome do dia consagrado ao futebol. Mas ele nasceu para superar o pai. Para defini-lo, talvez seja necessário só um adjetivo: divino.

Mas Ademir da Guia não foi apenas o melhor jogador da história do Palmeiras: tanta parte faz da história deste clube, ele é o próprio Palmeiras. Vê-lo jogar, para os que tal sorte tiveram, foi um prazer comparável apenas ao seu próprio talento.

Poucos sabem, porém, que Ademir nem sempre foi uma unanimidade. Aos 19 anos, recém-chegado do pequeno Bangu/RJ, aquele menino já tão tímido e calado deixou que pujança da Cidade e a paixão da torcida o intimidassem e o calassem ainda mais. Daí o apelido que ganhou em seus primeiros meses de Parque Antártica: Bonde.

Sim, cometeram o hediondo crime de comparar Ademir da Guia ao meio de transporte que, no começo dos anos 60, já se tornava obsoleto na Capital paulista. Mas bastaram algumas partidas para que o menino provasse que tinha, como dissera o inesquecível jornalista Armando Nogueira, nome e sobrenome de craque.

Tempo, aliás, foi o que não faltou a Ademir: foram exatos 16 anos, um mês e um dia de serviços prestados ao clube, desde 17 de agosto de 1961, quando treinou pela primeira vez no Palestra Itália, até 18 de setembro de 1977, dia em que vestiu pela última vez em jogos oficiais a camisa do Verdão.

Ademir ao lado de sua mais do que merecida estátua

Praticamente não vi Ademir jogar, e isso dói. Mas, para escrever sobre ele, talvez nem seja preciso ter acompanhado suas passadas vagarosas e simultaneamente mortais, sua falsa frieza em campo, seus quase 90% de acerto nos passes, segundo calculou um dia Oswaldo Brandão.

Como disse certa vez o poeta João Cabral de Mello Neto, Ademir “impunha com seu jogo o ritmo do chumbo e o peso da lesma, da câmera lenta, do andar na areia, do homem dentro do pesadelo, entorpecendo e então atando o mais irrequieto adversário”.

Ademir da Guia é divino pela própria natureza.

Ficha Técnica no Verdão

Nome: Ademir da Guia
Data e Local de Nascimento: 03/04/1942, no Rio de Janeiro-RJ
Posição: Meia-esquerda
Estreia: 08/04/62 – Paulista de Santa Bárbara D’Oeste/SP 2 x 4 Palmeiras
Despedida: 22/01/1984 – Comb. Amigos Ademir da Guia/SP 2 x 1 Palmeiras
Jogos: 903
Gols: 158
Títulos (24): Campeonato Paulista/63, Taça Piratininga/63, Torneio de Firenze (Itália)/63, Torneio de Guadalajara/63 (México), Torneio Rio-São Paulo/65, Torneio IV Centenário do Rio de Janeiro-RJ/65, Taça Piratininga/65, Campeonato Paulista/66, Torneio Internacional Quadrangular João Havelange/66, Taça Piratininga/66, Torneio Roberto Gomes Pedroza/67, Taça Brasil/67, Taça Brasil-Japão/67, Torneio Roberto Gomes Pedroza/69, Torneio Ramón de Carranza (Espanha)/69, Campeão da Copa da Grécia/70, Campeonato Brasileiro/72, Campeonato Paulista/72, Torneio de Mar del Plata (Argentina e Uruguai)/72, Campeonato Brasileiro/73, Campeonato Paulista/74, Torneio Ramón de Carranza (Espanha)/74, Torneio Ramón de Carranza (Espanha)/75, Campeão Paulista/76

Obs.: Esta seção será atualizada em 01/03/2011.

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