CAP. 96 – O PALMEIRAS E A RELIGIÃO (PARTE II – FINAL)

Ao contar a história de um clube, principalmente se este clube for o campeão do Século XX do futebol brasileiro, parece ser tarefa fácil. Afinal, se por um lado alguns dados se perdem nestes mais de 102 anos de vida, não se pode negar que, por outro, as vitórias e os momentos felizes são constantes. 

Mas ninguém vive tanto sem que tenha seus tropeços, sem que cometa seus erros. E é claro que com o Palmeiras não foi diferente. Assim, é dever de todo o historiador ater-se à realidade dos fatos, mesmo quando estes causem no coração não a alegria da conquista, mas sim a dor da derrota. 

Desta forma, a partir de agora e durante alguns capítulos (não muitos, prometo) começaremos a recordar um período nada agradável ao Verdão. Afinal, após a conquista da Copa Rio, de fato e de direito o I Mundial Interclubes, passou nossa equipe por longos nove anos sem a conquista de um título de expressão. Mas, já dizem os expert’s no tema, “quem não estuda a história corre o risco de repeti-la”. E é para jamais repetir este erro que, agora, relembraremos a campanha palmeirense no Campeonato Paulista de 1954.


O time naquele torneio estava longe, bem longe mesmo de ser fraco. Jair Rosa Pinto, Juvenal, Dema, Waldemar Fiúme, Fábio Crippa, Humberto Tozzi, Achilles… Craques consagrados, alguns campeões mundiais com o próprio Palmeiras três anos antes.
 

Paschoal Walter Byron Giuliano

E foi sob o comando do capitão Cláudio Cardoso que esta constelação de jogadores levou o time a resultados expressivos, como 5 a1 na Portuguesa de Desportos (25.10.54), 8 a 1 no XV de Piracicaba (26.12.54),7 a 1 no Guarani (08.01.55) ou 5 a 1 no Santos (22.01.55). Como se vê, problemas com o calendário, como eu já disse uma constante na história do futebol brasileiro, levaram o campeonato de 1954 a invadir 1955.

A outra grande equipe do torneio era o Corinthians. Também repleta de jogadores que entraram para a história – Gilmar dos Santos Neves, Goiano, Roberto Belangero, Cláudio Cristovam de Pinho, Luizinho (o “Pequeno Polegar”) e Baltazar (o “Cabecinha de Ouro”), eram apenas alguns exemplos. 

E eis que os dois maiores rivais chegaram à penúltima rodada com chances de levantar a taça. Melhor um pouco para o nosso principal adversário que, três pontos à frente, dependia apenas de um empate para garantir o caneco. Ao Verdão não restava outra alternativa senão vencer o Derby, a última partida – contra oLinense, em Lins/SP – e ainda torcer pela derrota corintiana no último jogo (contra o São Paulo).

Uma tarefa sem dúvida alguma das mais difíceis. Tão difícil que o então presidente palmeirense, Paschoal Walter Byron Giuliano, acreditou ser verdadeira uma história de que o alvinegro contratara os trabalhos espirituais de Pai Jaú, ex-zagueiro do time nos anos 20 e 30 e que, após pendurar as chuteiras, tornou-se um famoso pai-de-santo. Reconhecidamente supersticioso, resolveu devolver na mesma moeda e contratou uma mãe-de-santo, dona Rosinha, quase ou até mais famosa nos assuntos espirituais do que o ex-atleta corintiano. A fim de que o Palmeiras pudesse ser campeão, ela orientou nosso presidente a adotar procedimentos no mínimo estranhos, dentre os quais destacaram-se: 

1-    Engessar uma das pernas

2-    Ir ao estádio, no dia do jogo, utilizando uma muleta

3-    Dar uma volta no gramado portando o tal objeto

4-    E o mais intrigante de tudo: deveria também trocar a cor das camisas do Palmeiras – em vez das tradicionais verdes, o time deveria usar azuis. 

Giuliano nem discutiu: fez tudo o que a tal vidente mandou e, naquele 6 de fevereiro de 1955, eis que o Verdão se transformou em… Azulão.

A fim de não causar complicações, a notícia da troca na cor das camisas foi escondida até momentos antes da partida. Nem mesmo os jogadores ficaram sabendo da substituição e muito menos dos motivos que a originaram; ficaram também eles surpresos quando viram o roupeiro com camisas azuis, iguais às que usavam nossos goleiros. 

Sobre este fato, certa vez confidenciou a este jornalista o então goleiro suplente Fábio Crippa: “O Laércio, que foi o titular do gol naquele jogo, já estava com a camisa azul escura, mas teve de trocar de última hora por uma vermelha, pois o nosso roupeiro começou a entregar camisas azuis para os jogadores de linha. Ninguém entendeu nada e, por mais que perguntássemos, não havia nenhum diretor para explicar. A camisa era até bonita, tinha o símbolo do Palmeiras, mas não era a nossa camisa”, disse.  

Bola rolando e não demorou muito para que todos tivessem certeza de que as mandingas não dariam certo. Logo aos 9 minutos, Luizinho colocou o Corinthians em vantagem, placar que se manteve até o fim do primeiro tempo. Nem mesmo o empate palmeirense – gol de Ney, aos 6 da etapa final – foi capaz de mudar a partida. Ao apito final de Esteban Marino, os corintianos puderam comemorar mais um título. 

Já aos palmeirenses couberam apenas a tristeza da derrota e a convicção de que, decididamente, a nossa cor era a verde. 

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