CAP. 86 – UM “SANTO” CAMPEÃO (PARTE III – FINAL)

Aos que não viram Jair Rosa Pinto jogar, dentre os quais lamentavelmente se inclui este jornalista e historiador, podemos usar como exemplo a imagem de Edmundo. Exatamente como o “Animal” em seus melhores tempos, Jajá era dono de um talento inquestionável, de um futebol de encher os olhos e de atuações capazes de levar seus torcedores ao êxtase.

Porém, também tinha lá os seus problemas disciplinares: líder por natureza, muitas vezes passava à frente do técnico e reclamava até mesmo publicamente de um companheiro que havia jogado mal, culpando-o pela derrota ou pelo mau resultado. Daí que eram bastante comuns as rusgas que arrumava com atletas ou com o próprio treinador.

Franzino e de pernas finas, o jogador – que chutava tão forte de perna esquerda que ganhou o apelido de “Coice de Mula” – passou a maior parte daquele Campeonato Paulista, justamente pelos motivos acima citados, como um simples reserva no Palmeiras. Logo ele que, integrante da Seleção Brasileira que meses antes perdera o título mundial para o Uruguai, tão sequioso estava para dar a volta por cima.

Mas de nada adiantavam os protestos de Jajá. Impassível, o técnico palmeirense Ventura Cambon insistia em mantê-lo na suplência e, vale lembrar, naquela época ainda não se permitiam as três alterações durante a partida. Em outras palavras: se não fosse relacionado para determinado jogo, o cara poderia ir embora para casa.

Contudo, o futebol – e, creio eu, até mesmo a vida – é feito de detalhes. E o detalhe que mudou a história do Paulistão-50 foi a possibilidade real do Palmeiras de conseguir o título e, o que se tornava ainda mais gostoso, impedir o tricampeonato do São Paulo. Mas como conseguir isso diante de uma equipe recheada de craques, todos eles devidamente relembrados no capítulo anterior? A solução seria reforçar o nosso time com o máximo de craques também. E foi aí que Cambon deu provas de sua inteligência: apesar do relacionamento desgastado que mantinha com Jair, decidiu escalá-lo na partida decisiva.

Jajá: futebol e temperamento de craque

O Pacaembu quase explodiu de tanta gente naquele 28 de janeiro de 1951 – mais uma vez, o calendário então já complicado não permitiu que o campeonato fosse decidido no mesmo ano em que começara. Mas inicialmente as coisas não nos saíram como se esperava: logo aos 3 minutos de jogo, o hábil ponta-esquerda são-paulino Teixeirinha abriu o placar, resultado que garantiria a conquista ao Tricolor.

Não se pode negar que o Palmeiras, antes tranquilo com a vantagem de jogar por dois resultados – a vitória e o empate – sentiu o gol. Desarticulado e por vezes afoito, como definiram os jornais da época, o time custou a se reequilibrar em campo e, não fossem importantes defesas de Oberdan, certamente teria levado mais gols ainda na etapa inicial. Mas, para nossa sorte, conseguimos segurar o magro1 a0 que, se por um lado não era o melhor placar, por outro também ainda nos deixava com chances de reverter a situação no segundo tempo.

Para tanto, porém, seria preciso uma mudança de atitude, seria necessário que o Palmeiras voltasse a jogar como o fizera no começo daquele Campeonato Paulista. E foi neste ponto que Jair Rosa Pinto entrou de vez no jogo. Durante o intervalo, nos vestiários palmeirenses, o craque deu uma incrível bronca em todos os jogadores, lembrando que a chance de serem campeões estava escapando sem que ninguém fizesse nada para evitar. Lembrou, também, a grandeza da equipe e a força daquela camisa verde, e que colocar as faixas de campeão ao fim daquele clássico só seria possível – e válido – se o time as fizesse por merecer.

O “chacoalhão” de Jajá surtiu efeito. O Palmeiras da etapa final foi completamente diferente do visto nos primeiros 45 minutos. Dominando as ações desde o reinício da partida, não demorou muito para obter o empate – aos 16 minutos, com um gol de Achilles, o “Baixinho” de ouro do Verdão. Claro que, depois do empate, o São Paulo pressionou – e muito – em busca da vitória, mas nossos bravos guerreiros, comandados por Jair Rosa Pinto, conseguiram segurar o empate e, consequentemente, garantiram mais um título paulista para a nossa coleção.

Aquele Paulistão do “Ano Santo”, meus amigos, foi todo do endiabrado Jajá.

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