CAP. 65: O PALESTRA NA II GUERRA MUNDIAL (PARTE 5 – FINAL)

Mesmo diante de tantas manobras extracampo, o fato é que o Palestra de São Paulo, nome que adotara desde 27 de março daquele ano, entrou em campo pela primeira vez como Sociedade Esportiva Palmeiras em 20 de setembro de 1942 e, assim como o São Paulo/SP, pronto para decidir o Campeonato Paulista.

Ambos os times disputavam rodada a rodada o título daquele Paulistão. Quando chegou a hora da penúltima partida, o Verdão somava 34 pontos, contra 32 do Tricolor. Ou seja: para evitarem mais um título alviverde, os são-paulinos teriam de vencer de qualquer maneira aquele clássico e, com isso, adiar a decisão para o último jogo do torneio.

Claro que por mais profissionais que fossem os 22 jogadores, tornou-se impossível não se deixar contagiar pelo que acontecera nos meses, dias, semanas, horas e, até mesmo, minutos antes do início daquele inesquecível clássico – de um lado, 11 palmeirenses com os brios feridos por terem sido acusados de traírem a Pátria; do outro, 11 são-paulinos ainda estupefatos frente à recepção dada pela torcida, que lotou as arquibancadas do Pacaembu e aplaudiu, de forma efusiva, aqueles homens de camisas verdes.

Mas o show deve sempre continuar, e por isso na hora marcada o árbitro Jaime Janeiro deu início à partida. O Verdão começou com Oberdan; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio Pinho, Waldemar Fiúme, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. Já o São Paulo entrou em campo com Doutor; Piolin e Virgílio; Lola, Silva e Noronha; Luizinho Mesquita, Waldemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal.

Bola rolando e o Palmeiras começou melhor, criando boas chances de gol e envolvendo o sistema defensivo adversário. Tal superioridade ganhou números aos 19 minutos de jogo, quando o ponta-direita Cláudio Pinho abriu o placar para os alviverdes. Desta forma, o atacante que anos mais tarde se consagraria como o maior artilheiro da história do arquiinimigo Corinthians/SP tornou-se o primeiro jogador a marcar um gol para a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Nossa alegria, no entanto, durou pouco tempo, mais exatamente apenas três minutos: aos 22, Waldemar de Brito, que um dia seria o descobridor de Pelé, empatou o jogo. O clássico seguiu equilibrado até os 43 minutos, quando o médio-esquerdo Del Nero fez o segundo gol palmeirense.

Estes foram alguns dos primeiros campeões pela S. E. Palmeiras:
Em pé – Del Debbio (técnico), Zezé Procópio, Junqueira, Oberdan, Clodô, Begliomini e Del Nero;
Agachados: Cláudio Pinho, Waldemar Fiúme, Villadoniga, Lima e Echevarrietta.

Na etapa final o panorama do jogo não se alterou: Verdão e Tricolor continuaram disputando um emocionante clássico, que teve mais um gol palmeirense aos 14 minutos, marcado pelo ponta-esquerda Echevarrieta.

Os3 a 1 no placar desestabilizaram o São Paulo, que via o Verdão pular dois pontos à frente e garantir matematicamente o título. Talvez por isso mesmo o zagueiro Virgílio se tornou o personagem principal – e negativo – daquela partida: aos 19 minutos, ele derrubou violentamente Og Moreira dentro da área, o que fez Jaime Janeiro marcar pênalti. Inconformado, Virgílio partiu pra cima do árbitro e, claro, foi expulso.

Com um homem a menos e provavelmente tendo de reverter uma goleada de 4 a 1 nos pouco mais de 25 minutos que ainda duraria a partida, o São Paulo/SP decidiu protestar de uma forma no mínimo discutível: simplesmente abandonou o campo. Passados os minutos de praxe, Janeiro apitou o fim da partida.

O fato de ter se recusado a jogar o restante da partida valeu ao São Paulo/SP o apelido de “time fujão”, sendo esta derrota, até hoje, a maior vergonha de toda a história tricolor. O que doeu para os palmeirenses é que a decisão partiu, principalmente, do atacante Luizinho Mesquita, um dos maiores ídolos do Palestra Itália e que pelo nosso time havia conseguido vários títulos.

Mas o mais gostoso foi a conclusão a que se chegou logo após o fim da partida: o Palestra Itália morrera líder, mas o Palmeiras já nascia campeão. O feito ficou conhecido como “Arrancada Heroica” e hoje batiza uma passarela que fica na Avenida Antártica, ao lado do nosso estádio.

Dois detalhes importantes ainda constam na história daquele inesquecível confronto. O primeiro é que, por não ter permanecido em campo até o seu final do encontro, o São Paulo/SP foi punido pela FPF e não pôde disputar aquele que seria seu último compromisso pelo campeonato, contra o Espanha (atual Jabaquara) – os pontos foram para a equipe da cidade de Santos/SP. E o segundo é que estava em jogo entre Palmeiras, São Paulo e Corinthians o título de “Campeoníssimo” – o melhor dentre os três, que formavam o chamado “Trio-de-Ferro”, ganharia um imponente troféu oferecido pela Federação. E como o Verdão faturou o título daquele ano, a taça veio para nós.    

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