CAP. 62: O PALESTRA NA II GUERRA MUNDIAL (PARTE 2)

Por mais que se esforçassem, os dirigentes do Palestra Itália não conseguiam entender por que o Governo Federal exigia a mudança do nome do clube. E tinham, cá entre nós, toda a razão. Afinal, era óbvio que não seria o fato do nosso clube permanecer ou mudar de nome que faria o Brasil ganhar ou perder a guerra contra as forças do Eixo. Mas a pressão era tão forte que, em pouco tempo, a equipe passou a ser tratada como inimiga da Nação. Na verdade, era como se os palestrinos tivessem declarado guerra ao Brasil.

Paralelamente às pressões governamentais e populares, eram fortes também os interesses alheios nesta mudança. Por decisão do presidente Getúlio Vargas, entidades que não se adaptassem às exigências federais, incluída aí a mudança do nome, deveriam ficar cientes de que poderiam ter seu patrimônio tomado pelo Governo que, em seguida, o leiloaria. E foi então que cresceram os olhos de um dos principais rivais palestrinos da época.

Ainda uma criança, visto que contava apenas 12 anos, o São Paulo FC já tinha, porém, objetivos de grandeza. Mas para se tornar a potência que sonhava – objetivo que, admite-se, conseguiu atingir – o clube precisava de um estádio de futebol. A sensação de inferioridade perante Palestra Itália, Corinthians e Portuguesa, só para citarmos alguns exemplos, incomodava o Tricolor. Desta forma, nada mais interessante aos são-paulinos que unirem o útil ao agradável: se não mudasse de nome, o Palestra perderia o Parque Antártica que, em leilão, poderia acabar nas mãos do nosso principal rival.

Talvez tenha sido este o principal motivo que levou o então presidente palestrino, Ítalo Adami, a aceitar a mudança no nome, ainda que isso ferisse, como já dissemos, o orgulho de cada italiano e de cada brasileiro que, de uma forma ou de outra, fazia parte do clube. Mas, já que a Nação parecia ultrajada com o a palavra “Itália”, que fosse ela, então, suprimida da denominação do alviverde. A partir de então, o Palestra Itália passaria a se chamar “Palestra de São Paulo”. E para dar um tom ainda mais brasileiro ao clube, nosso símbolo passaria a ter as cores verde e amarela.

Tudo resolvido? De início pensou-se que sim, mas em pouco tempo se viu que não. O Governo Federal até que se deu por satisfeito com a mudança, mas como dissemos havia um outro interessado nesta história. Ainda de olho no Parque Antártica, dirigentes são-paulinos lideraram uma campanha popular exigindo alterações ainda mais extensas em nosso clube. Tinham os tricolores a certeza de que nossa diretoria não aceitaria mais este absurdo e que, diante da postura que ela certamente tomaria novamente, os governantes do País poderiam tomar nosso patrimônio e em seguida todo ele passar às mãos são-paulinas.     

Para dar uma ideia real do quão ridículo eram os argumentos de nossos rivais, vale lembrar que toda a tese de “ultraje à Nação” se devia a dois fatores: o primeiro à palavra “Palestra”, e o segundo à cor vermelha, presente em nossas camisas ainda que de forma bastante reduzida, e que junto ao verde e ao branco simbolizavam a bandeira italiana. Pura ignorância: “Palestra”, na verdade, é uma palavra que nada tem de italiano e nem mesmo de latim: é, na verdade, um substantivo de origem grega que significa “local onde se realizam reuniões”.

Ou seja: não havia motivo algum para que Adami e sua diretoria aceitassem mais esta imposição. Contudo, o clima de beligerância contra o nosso clube crescia a cada dia. Várias foram as vezes em que o Parque Antártica se sentiu ameaçado de invasão e depredação e, por isso, aos poucos os homens que comandavam nosso clube perceberem que não haveria outra saída a não ser mais uma mudança, desta vez brutal. Só isso poria fim à onda de protestos da qual o clube vinha sendo alvo principal. 

E assim se fez. Reunidos na sexta-feira, 18 de setembro de 1942, nossos dirigentes resolveram tomar duas decisões radicais: a partir de então, também a palavra “Palestra” deixaria de existir em nosso nome, assim como o vermelho seria suprimido de nossa camisa. Aproveitou-se a letra “P”, que já existia em nosso símbolo, e se decidiu que nosso novo nome seria “Palmeiras”, numa homenagem a uma antiga equipe paulista que, desde 1914, quando surgira nosso clube, sempre mantivera conosco uma relação de amizade e respeito: a Associação Atlética das Palmeiras. Sem o vermelho, ficamos apenas com o verde e o branco, e aí ninguém mais pôde nos acusar de sermos “inimigos da Nação”.

 Em nosso próximo encontro, continuaremos a falar sobre o tema, sem dúvida alguma a página mais marcante e importante de toda a história do nosso clube.

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