CAP. 14: UMA GRANDE HUMILHAÇÃO

Além da ansiedade de ser ou não aceita no Campeonato Paulista, nossa equipe vivia também os problemas financeiros inerentes a qualquer associação. O contrato do aluguel da sede da Rua Riachuelo, bem próximo à Praça do Patriarca, no Centro paulistano, estava cada vez mais próximo do fim e já se sabia que dinheiro não havia para manter as instalações palestrinas naquele local. 

Daí que o amistoso com o Paulistano, aquele em que fomos derrotados por 4 a 1, viria bem a calhar. O dinheiro que ao nosso clube caberia certamente ajudaria bastante o clube. Contudo, estava a Itália envolvida na I Guerra Mundial e, por isso, mais uma vez – assim como já acontecera no primeiro jogo da história do time – novamente todo o dinheiro foi entregue à Pró-Pátria. 

Sem dinheiro, sem time e, dentro de pouco tempo, também sem sede. Vamos combinar que a situação do Palestra Itália não era nada boa. Mas o clube ia se virando, organizando um baile aqui, uma festa ali, e arrecadando fundos com a venda de ingressos para estes eventos e também de escudos do time, vendidos como souvenires aos primeiros torcedores. 

Contudo, chegaria uma hora em que a APEA teria de decidir qual seria o adversário palestrino para medir a força de nossa equipe e comprovar se tinha ela condições ou não de disputar o Paulistão de 1916. Como já dissemos, após muito enrolar, a entidade que comandava o futebol paulista naquela época decidiu dar ao tal jogo um status ainda mais importante: ao escolher o Santos Futebol Clube como nosso oponente, determinou também que o vencedor do embate teria lugar assegurado no torneio do ano seguinte. Com tão pouco tempo de vida, chegava hora da nossa primeira decisão. 

Trataram os palestrinos de correr contra o tempo para montar o time. Com uma postura que hoje seria retrógrada e inaceitável mas, na época, era considerada normal, restringiram-se os convites a atletas exclusivamente italianos ou, na maioria dos casos, descendentes de italianos. Isso, claro, dificultava a montagem da equipe, pois o simples fato de ser um “oriundo” nem sempre levava o respectivo jogador a abandonar sua equipe e ir jogar pelo Palestra Itália. Muitos, quando assim agiam, o faziam por gentileza, não por amor à camisa. 

Rua Líbero Badaró, 1916: ao fundo e à direita, o prédio para o qual se transferiu a sede do Palestra Itália

De qualquer forma, tudo ficou pronto até a data do jogo, 3 de outubro de 1915. Ao Campo do Velódromo Paulistano (que ficava na Rua da Consolação, entre as ruas Martinho Prado e Olinda (atual Nestor Pestana) e sob arbitragem de Irineu Malta, assim chegou e atuou a Società Palestra Itália na primeira decisão de sua história: Stilittano; Felice e Fúlvio; Police, Fragassi e Gaetano Imparato; Pastore, Américo, Amílcar, Ferré e Ítalo. Em 90 minutos, um sonho que já se fazia antigo estava em jogo. Se ganhássemos, estaríamos no Campeonato Paulista de 1916. Mas o Santos/SP tinha exatamente o mesmo objetivo, e não mediria esforços para manter longe do torneio aquele time de italianos.        

Meus amigos: nem sei se tenho coragem de lhes contar como foi o jogo. Aliás, talvez isso nem seja necessário, bastando para tanto informar apenas o placar final da partida: 7 a 0… Isso mesmo: fomos impiedosamente goleados pelo time santista, apenas dois anos e quatro meses mais velho do que o nosso, porém muito mais experiente e preparado, como bem provou o resultado final. 

Mais do que humilhados pela vexatória apresentação, estavam todos os palestrinos arrasados. Tanto haviam esperado pela chance de serem aceitos pela APEA, tanto haviam insistido para que lhes fossem abertas as portas da filiação à entidade, tanto haviam sonhado com a disputa do Paulistão, e agora cumpriam um ridículo papel. O Santos/SP, claro, comemorava a vitória e a garantia de uma vaga no torneio estadual daquele ano. O único detalhe positivo foi que, com o dinheiro que lhe coube, o Palestra pôde sair da sede da Rua Riachuelo para uma outra, bem mais ampla e igualmente bem localizada, na Rua Líbero Badaró. 

Cabisbaixos, dirigentes, torcedores e jogadores seguiram até o ponto do bonde. Na cabeça de cada um, um outro ponto – de interrogação: se não iria disputar o Campeonato Paulista do ano seguinte, como fazer para manter vivo o clube durante toda a temporada de 1916? 

O que nenhum deles poderia imaginar era que, às vezes, milagres acontecem. Você vai entender exatamente do que falo na próxima vez em que nos encontrarmos em “Nossa História”. 

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