CAP. 10: ENQUANTO A BOLA NÃO ROLA

O dia 24 de janeiro de 1915 amanheceu com céu azul e o sol brilhando forte em São Paulo. Aliás, naquela época as estações do ano eram muito bem definidas por aqui. Assim, todos já sabiam que, do meio para o fim da tarde daquele domingo, cairia uma chuva torrencial. Esta só não alagaria nossas ruas porque, então, a Cidade era um paraíso de arborismo e vegetação, não lembrando nem em sonho a selva de pedra e o chão de asfalto que hoje impedem a absorção da água pela terra.

E foi justamente por medo da chuva que a delegação palestrina se reuniu às 09h00 da manhã na antiga Estação Sorocabana para pegar o trem. Um número considerável de associados, em seus impecáveis ternos, e suas esposas, com gigantescos chapéus, como mandava a moda dos endinheirados de então, tomaram assento ao lado dos dirigentes e, claro, dos jogadores na composição rumo ao Interior do Estado. Não se escondia, e nem se queria esconder, o nervosismo e a ansiedade – afinal, estavam todos a poucas horas de um fato célebre: o primeiro jogo de futebol da Società Palestra Itália. Por isso, durante a viagem de quase duas horas, a expectativa era geral.

A chegada à estação ferroviária de Sorocaba/SP foi em meio a uma grande festa. Banda de música, centenas de pessoas se acotovelando para ver os paulistanos e o tal novo time de “calcio” que eles haviam criado. Até o prefeito local, Cap. Augusto César do Nascimento Filho, estava lá para recepcionar os ilustres visitantes.

Como a chegada se deu por volta das 11h30, houve tempo para que toda a comitiva visitasse a redação do jornal local, o Cruzeiro do Sul, e em seguida todos foram convidados para um lauto almoço, regado a um excelente vinho tinto. Vinho tinto italiano, claro.

Estação Ferroviária Sorocabana em 1915

Numa época em que o futebol apenas engatinhava no Brasil, não é de se estranhar a falta de apuro na alimentação dos jogadores palestrinos. A poucas horas do início do amistoso, todos comeram e beberam. Sem exageros, é óbvio, mas também sem nenhuma preocupação.

O Savoia, primeiro adversário palestrino, era uma equipe que tinha lá a sua fama por todo o nosso Interior. Já contava 15 anos de vida e, como vencera a maior parte dos jogos que fizera, acabara por se tornar respeitado e até temido não só nos arredores de Votorantim como também nas cercanias de Sorocaba/SP. Como já dissemos, tratava-se de um time de origem e direção italianas e, exatamente por isso, uma precursora do time palestrino, muito embora a sua fundação, datada de 01.01.1900, em nada tenha contribuído para o nascimento do nosso Palestra Itália.

Um detalhe que pouca gente sabe é que antes da partida principal aconteceu uma preliminar, formada pelos então chamados “segundos quadros”. Ora, se para montar um time já tivemos aquela enorme dificuldade, imaginem então para montarmos dois. A solução foi escalar alguns torcedores e até um dirigente – no caso, Luigi Cervo. Ele, porém, não foi capaz de impedir a derrota palestrina por 4 a 0.

Alguns minutos antes das 15h00, para quando estava previsto o início do jogo principal, o público se aglomerava ao redor do péssimo gramado do Campo do Castelões. Nele, de um lado já aparecia o Savoia, com suas camisas brancas com grossas listras vermelhas, calções azuis e meias vermelhas, mais parecendo a bandeira americana; do outro, o Palestra Itália, de camisas verdes, calções e meias brancos. Em comum, ambos os times carregavam no peito a Cruz de Savoia, o brasão que representava o Império Italiano.

Confira, agora, as escalações das equipes, e preste bastante atenção na do nosso adversário:

Colbert; Dindino e Silvestrini; Gigi, Zecchi e Fredrich; Imparato, Cardoso, Ferreira, Imparatinho e Pinho. 

Stilitano; Bonato e Fúlvio; Police, Bianco e Vale; Cavinatto, Américo Fiaschi, Alegretti, Amílcar e Ferré.

Repararam no ponta-direita e no meia-esquerda do Savóia? Pois é: os irmãos Gaetano e Ernesto Imparato são os mesmos que, cerca de três anos mais tarde, iniciariam uma brilhante trajetória no nosso time.

Em nosso próximo encontro, falaremos mais sobre o jogo em si, as dificuldades encontradas por nossa equipe e o resultado final da partida, que acabou premiando o time que mais buscou a vitória. 

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