CAP. 03: PARA UNIR A COLÔNIA. E PEITAR OS PAULISTAS.

Ragognetti, Cervo e Marzo começaram, então, a elaborar um plano para a criação de um clube de futebol. O problema é que a vida dos italianos e de seus primeiros descendentes não era lá muito fácil, e o dinheiro, quase sempre contado, mal dava para as despesas diárias, quanto mais para perdulários arroubos tipo a fundação de um time de futebol.

A sorte dos três rapazes foi a inesperada visita de dois clubes italianos ao Brasil e, claro, a São Paulo. O Torino, já naquela época bastante popular, e o Pro Vercelli, encantaram os brasileiros e os paulistas com suas exibições. Perplexos diante de tanto talento, os olhos dos nossos meninos marejaram de emoção ao ver as duas equipes mostrando toda a sua qualidade. E dentro do peito de cada um deles cresceu ainda mais a certeza de que os filhos da Itália e os filhos dos filhos da Itália mereciam ter um clube só deles.

Mapa geográfico da Itália

Aproveitando-se do clima de euforia que tomou conta da Cidade, Vincenzo Ragognetti esperou apenas que o navio com as duas delegações deixasse o porto de Santos/SP em direção à Europa para arregaçar as mangas e, enfim, fundar o clube. Para tanto, utilizou a influência que tinha como redator do jornal Fanfulla, um órgão exclusivamente voltado à colônia e que, aliás, era todo escrito em língua italiana. Despojado e decidido, publicou o seguinte anúncio, aqui devidamente traduzido, na edição do dia 19 de agosto de 1914: “Todos os quais desejarem participar da criação de um clube italiano de futebol devem comparecer às 20h00 de hoje no número 2 da Rua Marechal Deodoro para a reunião de fundação do Palestra Itália”. O nome, como se vê, já fora decidido pelos três.

A ideia dos jovens rapazes era simples: explicar aos compatriotas, sobretudo aos financeiramente mais privilegiados, o quanto seria importante para a colônia ter um local próprio e exclusivo para a prática do futebol, o esporte que já começava a ganhar o mundo. Seria uma maneira de unir as famílias italianas e, desta forma, afrontar a supremacia e a arrogância dos paulistas, que mesmo após tantos anos ainda insistiam em tratar os “oriundis” como escravos – ou tanto quanto.

Em outras palavras: a principal razão do nascimento daquela que hoje é a maior paixão de todos nós foi política (como aliás aconteceu com quase todos os grandes clubes brasieiros). Tendo algo para unir sardenhos, calabreses, sicilianos, romanos, lombardos, napolitanos, etc., naturalmente rivais entre si, fortalecer-se-iam os laços entre todos – e, como se sabe, quando unidos somos sempre mais fortes. Seria, enfim, uma ótima ação para fechar o gueto.

Tinham os três rapazes a mais plena certeza de que, após a explanação, carteiras se abririam e o dinheiro necessário para o pontapé inicial da vida palestrina começaria a saltar das algibeiras.

Capa de uma edição do jornal Fanfulla

Ledo engano: na hora da reunião, criou-se uma grande confusão. A maior parte dos presentes acreditou que o novo clube teria, além do futebol, também toda uma parte social, com recitais, bailes, saraus, etc. Mas Cervo, Ragognetti e Marzo estavam decididos: a única maneira de transformar, a curto prazo, o Palestra Itália em um elo entre todos da colônia e, a médio prazo, um dos grandes times de São Paulo, seria centralizar todos os esforços e recursos apenas no futebol. Se outras atividades tivesse, o clube seria apenas mais um, e este não era o seu objetivo e muito menos haveria de ser a sua sina. Com os ânimos totalmente exaltados – e discussão entre italianos tem lá outro jeito de ser? -, não houve clima para que a reunião continuasse.

Ragognetti, então, em novo anúncio do Fanfulla, convocou um novo encontro para a quarta-feira seguinte, 26/08/1914, quando então se decidiria se de fato o Palestra Itália nasceria ou se não passaria de um sonho de algumas noites de inverno. Mas que ficassem todos cientes: o futebol seria o único motivo do surgimento do clube. Portanto, dentro de sete dias somente deveriam voltar a mesma Rua Marechal Deodoro, nº 2, aqueles que concordassem com esta prerrogativa.

Que o Palestra Itália nasceu todos nós, claro, já sabemos. Mas em nosso próximo encontro, teremos a oportunidade de saber como isso, de fato, se deu, saberemos como nosso primeiro personagem, Caetano Tozzi – lembram-se dele? – participou e conheceremos, também, certo homem de meia idade, sem o qual o Palmeiras, hoje, sequer existiria. 

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11 Responses to CAP. 03: PARA UNIR A COLÔNIA. E PEITAR OS PAULISTAS.

  1. Ruggero Bardazzi Falchi

    Tengo a precisare che il precedente link parla di cose tratte dal Libro “Palestra Italia” di Vincenzo Fratta. Sarebbe fantastico se le vostre conoscenze un giorno si unissero.Siete fantastici.
    Quello che molti non sanno e’ che mio Bisnonno ha un primato incredibile in Brasile.
    La prima patente di guida di un autoveicolo in tutto il Brasile e’ stata consegnata proprio a lui. Tutti i tifosi del Palmeiras saranno orgogliosi di avere avuto un presidente che e’ stato il primo a ricevere la “primeira carta de motorista em 1904″.
    Lo puoi leggere a pagina 2 del seguente link : http://www.anfavea.com.br/50anos/94.pdf
    A presto Marcio.

    • Márcio Trevisan

      Grazie, Roger.

      Sapevo che questo dettaglio che Falchi è stato il primo pilota riconosciuta.

      Abbracci.

      Traduzindo…

      Obrigado, Ruggero.

      Eu sabia deste detalhe de que Falchi foi o primeiro motorista reconhecido.

      Abraços.

  2. Parabéns pela obra… fico ansioso toda semana pela próximo capítulo, serão quantos ao todo?

    Abraço

    • Márcio Trevisan

      Olá, Diego.

      Muito obrigado pelo elogio.

      Não sei dizer quantos capítulos serão, pois a história do Palmeiras não tem fim. Mas o que posso dizer é que serão muitos, muitos mesmo. E um mais emocionante e revelador do que outro.

      Abs.

  3. Márcio, estou muito feliz por ter acesso a nossa história, muito obrigado e parabéns.

    • Márcio Trevisan

      Olá, Guilherme.

      Eu é que fico feliz por ter a chance de dividir com todos vocês a verdadeira história do nosso clube.

      Muito obrigado pelo seu apoio.

      Abs.

  4. Olá Márcio, fantástica essa narrativa, ela é parte de uma obra maior? Toda essa saga merece um registro à altura de nossa história. Parabéns por (também) esse trabalho, um forte abraço!

    • Márcio Trevisan

      Fala, Celso.

      Muito obrigado pelos elogios.

      Por ora, amigo, é apenas mais um bônus que ofereço aos meus amigos. Mas, quem sabe um dia…

      Abs.

      • Fantastico ! La storia del Palmeiras e’ unica. E’ un piacere sapere che le suo origine sono italiane. Mio Bisnonno era Menotti Falchi che nel 1920 firmo il contratto per acquistare il Parco di Antartica dove nacque il primo stadio del Palmeirsa. ( Palestra Italia ).
        Ruggero. Prato. Toscana. Italia.

        • Márcio Trevisan

          Ruggero, olá.

          Traduzindo…

          “Fantástico! A história do Palmeiras é única. É um prazer saber que suas origens são italianas. Meu bisavô era Menotti Falchi, que em 1920 assinou o contrato para comprar o Parque Antarctica, na primeira fase do Palmeiras. Roger. Prato. Toscana. Itália.”.

          Ora, in italiano molte grazie per il vostro contatto e sottolineo è stato un onore per me sapere che il mio lavoro sia accompagnata così da vicino anche così lontano. Il suo bisnonno era una figura molto importante nella storia del Palmeiras, e quando si arriva a 1920, sarà ricordato sul nostro sito.
          Cogliere l’occasione per invitarvi a visitare il nostro sito ogni giorno e diventare un amico di tutti noi.
          Grazie ea presto!

          Traduzindo de novo…

          Agora, em italiano, agradeço muito o seu contato e saliento ser uma honra para mim saber que meu trabalho é acompanhado tão de perto mesmo tão de longe. Seu bisavô foi uma figura importantíssima na história do Palmeiras, e quando chegarmos a 1920 ele será lembrado em nosso site.
          Aproveito para convidá-lo a acessar diariamente nosso site e se tornar mais um amigo de todos nós.
          Muito obrigado e até breve!

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